Folha de S. Paulo
Como não conseguem meter a mão na empresa,
centrão e governo falam em privatização
A privatização da
Petrobras é um debate razoável, um assunto mesmo para quem seja contra
a venda do controle estatal da empresa. Quer dizer, é uma discussão em teoria
razoável: não é difícil de imaginar a quantidade de mutreta, esperteza ou favor
que poderia enlamear ou pelo menos embaralhar
o processo.
Vide os jabutis de favores ineficientes que
enfiaram na lei
de privatização da Eletrobras. Considere-se a privatização das teles
(1998). Foi na maior parte um sucesso. Parte foi um rolo de quase um quarto de
século, que atravessou governos tucanos e petistas, vide o caso da Oi,
aparentemente resolvido, por assim dizer, apenas neste ano.
Seria um exagero dizer que a privatização
da Petrobras talvez se tornasse um episódio "oligarquia
russa", como foi o desmonte geral do Estado soviético. Seria, né, mas a
gente também discute hoje em dia se o Brasil pode se transformar em uma
Hungria de Viktor Orbán,
o autocrata amigão e inspiração de Bolsonaro. Tudo é possível neste mundo sem
Deus. Mas passemos.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, falou nesta terça-feira (5) de privatizar a Petrobras. Falou na condição de regente do desgoverno Bolsonaro, todo abespinhado porque micaram as nomeações de Rodolfo Landim e de Adriano Pires para o comando da petroleira.
Fulo, foi confuso na ideia de vingança:
sugeriu tanto mexer na lei das estatais como privatizar a Petrobras.
"A gente tem que se debruçar sobre
esse assunto [lei das estatais]... A quem serve a Petrobras? Não dá satisfação
a ninguém, não produz riqueza, não produz desenvolvimento", disse Lira.
Aliás, quem produz "riqueza" e "desenvolvimento"? A Codevasf tratorada,
que dá satisfação ao centrão?
Lira disse também: "Se ela não tem
nenhum benefício para o Estado, nem para o povo brasileiro, que vive reclamando
todo dia dos preços
dos combustíveis, que seja privatizada e que a gente trate isso com a
seriedade necessária".
Quando tem chiliques com os preços da
petroleira, Bolsonaro diz a mesma coisa. "Para mim, é uma empresa que
poderia ser privatizada hoje... E a Petrobras se
transformou na Petrobras Futebol Clube, onde o clubinho lá de dentro só
pensam neles. Jamais pensam no Brasil..." (15 de março de 2022).
"Eu já tenho
vontade de privatizar a Petrobras. Vou ver com a equipe econômica o que a
gente pode fazer porque, o que acontece? Eu não posso, não é controlar, não
posso melhor direcionar o preço do combustível, mas quando aumenta a culpa é
minha..." (14 de outubro de 2021).
Até 2020, quando preço não era problema,
Bolsonaro não queria saber de vender Petrobras, BB e CEF. Comportava-se como
uma mistura estatista de Geisel ainda mais tosco com modos de centrão.
Lira não sabe do que está falando,
Bolsonaro menos ainda. A gente já ouviu os dois discutindo política de pesquisa
e desenvolvimento da empresa (ou do governo em geral)? Rir, rir, rir. A lei das
estatais não impede que se faça "política pública", que as empresas
atuem fora de padrões de mercado. Mas tais políticas exigiriam plano, acordo
formal, lei, talvez até mudança de estatuto da empresa.
Não pegaria bem com a maioria dos donos do
dinheiro, mas poderia ser uma ideia, prevista nas regras. Essa gente, no
entanto, é brucutu. Se não entende a máquina e se de lá não saem ovos de ouro,
quer matar ou destruir a coisa a paulada.
O centrão saliva diante de estatais. Espuma
se a máquina estatal não vira um FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação), bezerro
de ouro dos pastores amigos de Bolsonaro e de licitações catinguentas,
ou uma Codevasf, local de desova de emendas parlamentares. Para que servem
então, né?
Nenhum comentário:
Postar um comentário