Folha de S. Paulo
No fim, a quinta (31) entregou menos
novidades do que pareceu que entregaria
Na quinta-feira (31), o processo de
consolidação das candidaturas da terceira via avançou. Em um dado momento do
dia, pareceu que avançaria mais.
Sergio Moro
desistiu de sua candidatura "por enquanto". Escrevi
sobre a possibilidade de Moro desistir no dia 12 de fevereiro, e continuo
achando a mesma coisa: Moro é prejudicado pela adesão maciça de seus aliados
potenciais ao governo Bolsonaro, o mesmo que desmontou a Lava Jato.
Como outros candidatos da terceira via,
Moro é um forte candidato para a eleição passada. Depois do desastre de
Bolsonaro, a "velha política" deve voltar a ser importante esse
ano. A corrupção
deve ser substituída pela economia como pauta principal da eleição. Nada
disso joga a favor de Moro.
Moro tinha cerca de 10% das intenções de voto. Uma parte desses votos deve ir para Bolsonaro, mas imagino que a maioria vá para o candidato que Moro apoiar. Essas transferências podem mudar o placar do primeiro turno, mas é difícil que alterem as posições no pódio.
João Doria
também ameaçou desistir, mas voltou atrás. Percebeu que a
articulação contra ele vinha pesada, por dois lados: Eduardo Leite, um político
jovem em primeiro mandato de governador, não teria deixado o governo do Rio
Grande do Sul se não contasse com aliados de peso para tentar melar as prévias
que perdeu no PSDB. Do outro lado, Rodrigo Garcia, vice de Doria, planejava se
distanciar do companheiro de chapa no minuto em que se sentasse na cadeira de
governador. A candidatura de Rodrigo Garcia vai mal nas pesquisas. Seus aliados
acreditam que isso se deve à sua associação com Doria.
Em uma jogada ousada e, ao menos no curto
prazo, bem-sucedida, Doria assumiu o papel de homem-bomba. Ameaçou continuar no
governo do Estado até o fim do mandato. Se isso acontecesse, Rodrigo Garcia não
concorreria sentado na cadeira de governador, com a caneta do governador e a
cobertura de imprensa do governador. O PSDB perderia o governo de São Paulo
depois de 28 anos.
Diante da ameaça, os tucanos deram à Doria
uma carta garantindo que o candidato será ele. Ninguém sabe quanto vale essa
carta. E o fato de que Eduardo Leite não retira sua candidatura é péssimo para
Doria. Que acordos ele pode fechar enquanto os aliados em potencial não tiverem
ideia se ele será mesmo candidato?
Ao terminar o dia candidato, Doria impediu
que dois grandes deslocamentos acontecessem.
Na disputa
paulista, Tarcísio de Freitas teria sido fortemente beneficiado pela
desistência de Doria. A desistência reduziria as chances de
Rodrigo Garcia a zero, e a direita paulista trocaria de candidato como fez na
eleição de 2018. Mantendo-se na disputa, Doria barrou esse movimento, ao menos
por enquanto.
Na disputa nacional, a desistência de Doria
no mesmo dia que a de Moro seria uma oportunidade muito boa para lançar uma
candidatura de unidade da terceira via, como Simone Tebet/Eduardo Leite. Houve
gente que se entusiasmou com essa possibilidade na quinta-feira. Nos dias
seguintes, Moro encontrou-se com Leite e Tebet, separadamente.
Doria também barrou esse movimento quando
decidiu manter sua candidatura. Já na sexta-feira, Tebet referia-se a Doria
como "legítimo candidato do PSDB".
No fim, a quinta-feira entregou menos
novidades do que pareceu que entregaria. A terceira via permanece um movimento
que não consegue tração no ambiente político atual. Os últimos conflitos me
lembram das brigas de grupos de esquerda radicais que testemunhei na juventude:
era muito quebra-pau para pouco voto.
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