Folha de S. Paulo
Sociedade Beneficente e Cultural Floresta
Aurora, do RS, é o clube negro mais antigo do Brasil
No ano do bicentenário da Independência do
Brasil, o clube negro mais antigo do país —a Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora— completa 150 anos. Fundado por um grupo de
alforriados, além da longevidade há muito o que comemorar. Chama a atenção
sobretudo o fato de a iniciativa ser originária do Rio Grande do Sul, onde a
questão racial e a participação do negro na formação do povo gaúcho são, no
mínimo, negligenciadas.
Pode-se dizer que o estado se orgulha das raízes e das tradições europeias na
mesma proporção em que oculta a participação africana em sua composição. Há na
historiografia um discurso de negação da presença negra no povoamento
rio-grandense.
E, quando os negros aparecem, a condição de escravizados é atenuada pelo mito da democracia gaúcha, como observou o ex-presidente Fernando Henrique em estudo da década de 1960 sobre "Capitalismo e escravidão no Brasil meridional".
Semana passada, reportagem do jornalista
Cláudio Isaías, publicada no Jornal do Comércio do RS, destacou a relevância do
Floresta Aurora no contexto histórico nacional. Afinal, em 1872 o país ainda
era a maior território escravocrata das Américas, o que ajuda a dimensionar o
feito daquele grupo de homens negros.
Ao lado de Porto Alegre, Pelotas e Rio
Grande são as cidades que concentram o maior contingente populacional preto e
pardo no estado. Mas até hoje as manifestações culturais de origem afro não são
devidamente valorizadas, e a influência da cultura negra na formação sul rio-grandense segue
pouco estudada.
Os festejos do sesquicentenário da
Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora, que começam dia 9, parecem um
bom momento para a ressignificação da importância negra na sociedade gaúcha,
desde a indústria do charque no século 19 —que utilizava a mão de obra
escravizada— até os dias atuais. Como dizem estrofes do Hino Rio-Grandense, "Mostremos valor, constância/Nesta
ímpia e injusta guerra".
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