Valor Econômico
Alexandre Padilha e Jaques Wagner são vozes
de Lula sobre economia
Sem alarde, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva começou a dar sinais de reedição do método adotado em 2002,
quando venceu a eleição presidencial, para escolher quem será o responsável, em
seu eventual futuro governo, pela condução da política fiscal.
Naquele ano, o ex-prefeito de Ribeirão
Preto Antonio Palocci foi acumulando missões, ampliando a interlocução com
empresários e com o mercado financeiro, na função de coordenador do programa de
governo.
Ainda assim, causou espécie quando veio a
público a nomeação de um médico para o Ministério da Fazenda. Para o desempenho
da função, Palocci cercou-se de quadros ortodoxos e abalizados como Marcos
Lisboa e Joaquim Levy.
Duas décadas depois, após afirmar a uma dezena de interlocutores que pretende nomear um político para o Ministério da Fazenda - caso saia vitorioso do pleito em outubro -, Lula voltou a colocar em prática o velho método, destacando quadros orgânicos do PT para a interlocução com empresários e com o mercado financeiro.
Mais uma vez, Lula escalou um médico de
perfil moderado para dialogar com o mercado financeiro. O ex-ministro da Saúde
e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) surpreendeu positivamente o grupo
de investidores com quem dialogou durante um almoço em Washington, no dia 22,
em painel organizado pela XP Investimentos, durante a semana de eventos do
Fundo Monetário Internacional (FMI).
Padilha foi convidado para fazer uma
palestra sobre a conjuntura política e eleitoral, mas acabou ampliando a fala
para o quadro econômico. Na véspera, ele havia se reunido com Lula para afinar
o discurso.
A resposta foi tão positiva que o
ex-presidente o enviou para uma nova missão junto a investidores, e Padilha-
que também foi ministro das Relações Institucionais -, representou o
presidenciável do PT em evento promovido pelo Banco Itaú/BBA, na Avenida Faria
Lima, em São Paulo, no dia 28 de abril.
Segundo fontes que acompanharam a exposição
de Padilha no evento da XP Investimentos, o petista confirmou que Lula pretende
modificar o teto de gastos, mas rechaçou a hipótese de que o ex-presidente faça
qualquer movimento abrupto nesse sentido. O ex-ministro da Saúde admitiu que o
PT menciona a “revogação” da reforma trabalhista, mas ponderou que Lula desejaria,
na verdade, revisar pontos da matéria. E que se for eleito, o petista
trabalhará fortemente por uma reforma tributária.
Sobre o teto de gastos, segundo Padilha,
Lula estaria idealizando um formato semelhante ao adotado com o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), em que os recursos para as obras de
infraestrutura ficariam de fora do cálculo do superávit primário.
Padilha ressaltou à audiência que o estilo
de Lula não é o de canetadas. Lembrou que qualquer mudança sensível nas regras
econômicas seria antes discutida em uma mesa de negociações que reuniria
representantes do setor produtivo e dos trabalhadores. Segundo o ex-ministro, a
ideia de Lula é resgatar o modelo do extinto Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social (CDES), o “Conselhão”, que reunia representantes de todos os
segmentos da sociedade civil.
De fato, em um evento com sindicalistas no
dia 14 de abril, ao lado do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) - que será
candidato a vice na chapa petista -, Lula afirmou que os sindicatos terão
participação mais ativa em sua eventual nova gestão.
Mas ao mencionar a revisão da reforma
trabalhista e uma reforma tributária, o ex-presidente disse que chamaria os
presidentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Federação
Brasileira de Bancos (Febraban), e os sindicalistas, para discutirem juntos as
mudanças. “Vamos colocar todo mundo na mesa, e eu quero saber qual é o
compromisso de cada um”, acenou Lula naquele ato.
Ainda segundo participantes do evento da
XP, Padilha foi cobrado pela audiência por um Lula mais “moderado”, e voltado
para o centro. O petista respondeu que o aceno mais eloquente nesse sentido foi
a aliança com o ex-adversário Geraldo Alckmin: essa teria sido a principal
“inflexão” da campanha petista de 2022.
Porém, Padilha não é o único quadro do PT
que Lula vem testando para o comando da Fazenda - caso resgate a velha
nomenclatura da pasta. O senador Jaques Wagner também despontou como emissário
de Lula para um evento internacional de ampla repercussão, especialmente junto a
setores econômicos.
Duas vezes governador da Bahia, ex-ministro
das Relações Institucionais, da Casa Civil e da Defesa, Wagner representou a
pré-campanha de Lula no evento Brazil Conference, em Boston, no dia 9 de abril,
organizado por estudantes brasileiros da Universidade de Harvard.
Wagner também exaltou o perfil conciliador
de Lula no evento, e afirmou que, se for eleito, o petista governará de forma
ampla e negociada. “Tenho absoluta convicção que, se ganhar a eleição, Lula
será um presidente melhorado”, ressaltou. “Não é um ET que está baixando. É
alguém que governou o país por oito anos”, completou.
No mesmo evento, Wagner rechaçou que Lula
seja um político de esquerda, e pretenda instituir uma gestão com esse viés.
“Lula não é um cara formado dogmaticamente no campo da esquerda. Ele não se
formou lendo os livros da esquerda, ele se formou na vida”, observou o petista.
“Ele é um cristão, um justiceiro social, se você quiser uma definição”,
acrescentou o senador.
Amigo de Lula há 44 anos, o “Galego”, como
é afetivamente chamado pelo ex-presidente, já aparecia como cotado para o
Ministério da Fazenda do eventual novo governo petista, ao contrário de
Padilha, cuja aposta surpreendeu o mercado.
Wagner vai acumular função de conselheiro
na coordenação da campanha de Lula, ao mesmo tempo em que se dedicará a tentar
eleger o ex-secretário de Educação Jerônimo Rodrigues (PT) na complicada
eleição para o governo da Bahia.
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