O Estado de S. Paulo
Contaminação de militares contra STF, urnas
eletrônicas e vacinas de crianças é via redes sociais
Os militares não são um monobloco, assim
como evangélicos, agricultores, sindicalistas, médicos, etc. também não, mas,
se eles reagiram no início do governo contra atos golpistas que levavam
bolsonaristas às portas do Planalto e o próprio presidente às do QG do
Exército, a percepção é de que balançam com os ataques de Jair Bolsonaro às
urnas eletrônicas e ao Supremo. Mal comparando, eles também não se deixaram
ludibriar com a campanha contra as vacinas de covid para adultos, mas cederam
nas de crianças.
Nos dois casos, é efeito das redes sociais e de grupos, ou bolhas, de famílias, vizinhos, escolas, igrejas e também de militares, da ativa e da reserva, que disseram não quando provocados contra vacinas e a favor de atos golpistas (para os quais o presidente até arrastou o então ministro da Defesa em helicóptero das Forças Armadas). Depois, porém, vêm baixando a guarda e sendo capturados por teses delirantes.
Essa é uma questão-chave, diante do temor
crescente de que Bolsonaro planeja repetir Donald Trump, que, ao perder as
eleições, atiçou sua turba para invadir o Capitólio. Aqui, não seria o
Congresso, mas o Supremo, alvo preferido do bolsonarismo. Sem os militares e o
Centrão, a ameaça não prospera.
Vários oficiais, de diferentes patentes,
introduzem conversas assim: “Você sabe que não sou bolsonarista e não concordo
com as maluquices do Bolsonaro, mas...” E engatam um discurso no sentido
contrário, defendendo exatamente as maluquices contra as urnas eletrônicas, por
exemplo. No fim, a resposta sobre a vacinação de filhos e netos é um tanto
encabulada: “Bem...”
Os grupos, ou bolhas, se retroalimentam com
as “verdades” que vêm de cima, especialmente contra o Supremo, e se enraizaram
nas redes bolsonaristas e nas de colegas militares, após a reviravolta nos
julgamentos do ex-presidente Lula. Ninguém lembra que Bolsonaro atuou contra as
investigações e a Lava Jato.
Assim, não é exagero os ministros do STF,
como o atual, o ex e o futuro presidente do TSE, saírem em defesa da
democracia, do processo eleitoral e da posse do eleito, seja quem for. Essa
posição é também dos presidentes da Câmara e do Senado e das Forças Armadas.
Mas é preciso cuidado.
Cuidado com a massificação do discurso
oposto e com o que o ministro Luís Roberto Barroso chama de “orientação” contra
o processo eleitoral, que nasce no gabinete presidencial e se espalha feito
erva daninha pelas redes sociais, uma terra de ninguém em que qualquer mentira
vira verdade. E todo mundo sabe qual é o contrário de democracia, instituições,
eleições e vacinas!
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