O Globo
O país vive uma baita crise econômica,
criada pelo atual governo, por má gestão dos choques externos e por seus erros,
e o ex-presidente Lula, que está na frente das pesquisas há meses, não tem
falado sobre economia. Como ele pensa em conduzir o país para fora da crise?
Desta vez a herança maldita de fato é maldita. No governo, o PT errou e
acertou. Portanto, a dúvida sobre os caminhos ficará. Lula, nessa questão, e em
outras, escolheu a estratégia de falar apenas para os seus fiéis eleitores.
Esses votos são dele. O que é preciso, explicou um dos seus ex-ministros, é não
assustar os que têm propensão de votar nele neste momento.
Na economia, quando assumiu em 2003, Lula superou a disparada do dólar que havia ocorrido por dois motivos, a crise de confiança em relação à política econômica que seguiria e o baixo nível de reservas cambiais. Na lista dos seus acertos, houve uma forte acumulação de reservas. Fez isso porque aproveitou o boom das commodities que ocorreu no início do seu governo, mas poderia ter malbaratado essa oportunidade, como fez por exemplo a Argentina. As reservas cambiais ajudaram o Brasil a passar melhor por todas as crises que se seguiram. Foi a vacina usada por todos os governos, inclusive este. Na semana passada, o Banco Central estava vendendo dólares para evitar o estresse que surgiu por mais um confronto institucional criado por Bolsonaro.
A lista de acertos de Lula na economia é
grande, mas depois de contornada a crise de 2008-2009 seu governo expandiu
muito os gastos para a eleição de 2010 e isso foi parte dos problemas agravados
depois. Uma fatia da expansão de gastos, que começou no governo Lula, e
permaneceu no governo Dilma, aumentou as transferências para a elite
brasileira. O pressuposto dos autodenominados desenvolvimentistas é fortalecer
a indústria nacional. O caso mais emblemático de erro foi o JBS, que foi
alavancado pelo BNDES para acumular ativos no exterior. Falando sério, um
governo de esquerda não deve aumentar as transferências para o capital. Simples
assim. É errado do ponto de vista liberal, e do ponto de vista da esquerda. Mas
foi feito. As estatísticas são claras. Os subsídios ao crédito subiram de 1,01%
para 2,15% do PIB, entre 2003 e 2015, enquanto os subsídios tributários
saltaram de 1,96% para 4,5% no mesmo período. Hoje os economistas que estão em
torno do candidato Lula falam em uma reforma fiscal que reduza esses
benefícios. Tomara que realmente o façam se voltarem ao poder.
Lula afirmou que a recessão de 2015-2016
foi criada pelo “golpe” de 2016. Isso é ótimo para os ouvidos dos seus fiéis
seguidores. Mas é falso. Houve uma intervenção desastrosa na energia, com a MP
579 que levou ao maior tarifaço da história, houve descontrole de gasto
público, e o Brasil perdeu o grau de investimento que havia conquistado em seu
governo.
O Banco Central no governo Lula foi
autônomo na prática, ainda que houvesse muita pressão de petistas contra o
então presidente do BC Henrique Meirelles. Essa autonomia ajudou no esforço
para controlar a inflação que havia subido no período de transição. Falar que o
presidente do BC, Roberto Campos Neto, será mantido é bom, mas insuficiente. Se
Lula sair defendendo o fim da autonomia formal recentemente conquistada será um
tiro no pé.
Se quiser acabar com o teto de gastos, o
ideal é que o candidato explique em algum momento como vai dar um horizonte de
queda da dívida pública/PIB, que está muito alta. Defender, como tem feito
sempre, preço baixo na gasolina pode ser bom para trazer votos da classe média,
mas a verdade é que posta em prática aumenta o gasto público com combustível
fóssil e pode levar a Petrobras de volta ao prejuízo. Os dividendos pagos pela
estatal ao Tesouro podem financiar investimentos sociais importantes.
Com o avançar da campanha, Lula será
cobrado a explicar seu programa econômico, e se ele tem o objetivo de ganhar a
eleição deve parar de improvisar. Quando ganhou a eleição em 2002, Lula
encontrou na equipe econômica liderada por Pedro Malan e Armínio Fraga uma
transição republicana e uma situação fiscal muito melhor que a atual. Na área
externa, um empréstimo havia sido feito no FMI para que dois terços fossem
liberados em sua administração. Desta vez, se ganhar a eleição, enfrentará toda
a hostilidade do governo Bolsonaro. Nada será fácil. Portanto, o melhor é
pensar antes de falar e realmente ter uma proposta coerente para tirar o país
da crise gerada em grande parte pelo próprio presidente atual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário