Folha de S. Paulo
Todos os esforços de tirar a ideia do chão
foram, até agora, um fracasso completo
Duas lições das
manifestações de domingo: Lula, apesar da
liderança nas pesquisas, tem uma dificuldade muito grande em
mobilizar eleitores. Bolsonaro, apesar de ver
seus atos diminuírem, ainda é, com folga, o político que mais consegue
trazer eleitores para a rua. Se isso é prenúncio de uma aproximação dos dois
líderes nas pesquisas nos próximos meses, ou se Lula manterá a liderança
confortável, o futuro dirá.
Independente de se achar um desses superior ao outro, é bem compreensível que
alguém não se sinta representado nessa dicotomia.
Afinal, o governo Bolsonaro é um desastre completo —na educação, no
meio-ambiente, na diplomacia, na saúde pública; some-se a isso o fato de inundar
o país com fake news e discussões espúrias sobre maluquices
ideológicas, além de atentar diretamente contra a democracia em suas falas.
Lula, por outro lado, sequer reconhece que
seu partido, com ele à frente, capitaneou o maior esquema de corrupção da
história deste país. Seus flertes constantes com a esquerda populista
latino-americana também não são nada animadores.
Os números relativamente baixos nos atos podem indicar a baixa empolgação da
sociedade com ambos. Mas o fato é que nenhum dos demais candidatos conseguiria
nada próximo disso se ousasse uma convocação popular. Todos os esforços de
tirar a "terceira via" do chão foram, até agora, um fracasso
completo. Com a saída
de Moro da corrida, seus votos reabsorvidos por Bolsonaro, o que já estava
murcho esvaziou ainda mais.
Restaram Ciro, Doria e Tebet. Ciro representa a aposta no desenvolvimentismo
econômico. Tem uma base fiel mas não consegue sair dela. Seu eleitorado está
mais à esquerda e ele compete com Lula. Os outros dois, por enquanto, ainda não
têm uma mensagem clara, mas falam muito mais à direita e competem com
Bolsonaro.
João
Doria deixou o governo de São Paulo com bons resultados para mostrar
em várias áreas: a economia do estado se destacou do resto do país; recebeu
muitos investimentos; o governo fez o ajuste fiscal; os esforços de despoluir o
Rio Pinheiros parecem que, finalmente, surtiram efeito. Foi também ele o
responsável pela vacina no Brasil; não fosse o exemplo de SP e o medo de perder
os holofotes, Bolsonaro nada teria feito.
Simone Tebet, além dos dois mandatos bem
avaliados como prefeita de Três Lagoas (MS) e vice-governadora, foi, ao longo
do governo Bolsonaro, provavelmente a senadora de maior destaque na oposição ao
governo. Mostrou, na CPI da Covid, a
força de sua liderança; enquanto alguns senadores usavam a Comissão como
palanque de discursos, Tebet mostrou ponto a ponto os absurdos e os crimes do
governo.
O desafio de Doria é vencer a
desconfiança do eleitorado. O de Tebet, além de se tornar mais conhecida, é
mostrar que tem a garra para vencer. Neste momento, tão avançado no ano
eleitoral, e saindo tão de baixo nas pesquisas, serão necessárias uma dedicação
furiosa e a mais completa autoconfiança para se ter alguma chance.
Cada vez mais, a ideia de "terceira via" revela-se auto sabotadora,
porque é um conceito vazio, que não representa nada. Como diz o provérbio
político americano, "you can’t beat something with nothing", não dá
para vencer algo se você não tem nada a propor.
Entre Bolsonaro e Doria, ou Bolsonaro e Tebet, o eleitor que votou no
presidente pode escolher. Entre Bolsonaro e um apelo genérico e vazio, fica com
seu voto original. Quanto mais tempo dura a indefinição das candidaturas, mais
o dilema Lula-Bolsonaro se impõe. É para ontem.
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