Lançado pré-candidato, Lula critica privatizações, prega união de democratas e diz não ter desejo de vingança
Apesar de críticas, petista não cita
Bolsonaro nominalmente, mas diz ser 'proibido ter medo de provocação, de fake
news via zap, Instagram'
Sérgio Roxo / O Globo
SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva focou o seu discurso, no ato de lançamento de sua pré-candidatura
a presidente da República neste sábado, na defesa da soberania nacional, com
críticas às privatizações. Também revelou a sua intenção de unir os democratas
e negou ter sentimento de vingança em virtude dos processos que o levaram a
passar 580 dias preso entre 2018 e 2019. Numa fala lida, o petista listou
programas de sua gestão e disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) destruiu boa
parte das suas realizações.
Apesar das críticas, o adversário não foi
citado nominalmente nenhuma vez pelo petista durante o seu discurso. Lula disse
ter orgulho de Geraldo Alckmin (PSB) ter aceitado ser vice e se comprometeu a
trabalhar para trazer novos apoios para a sua candidatura:
— Queremos unir os democratas de todas as
origens e matizes, das mais variadas trajetórias políticas, de todas as classes
sociais e de todos os credos religiosos. Para enfrentar e vencer a ameaça
totalitária, o ódio, a violência, a discriminação, a exclusão que pesam sobre o
nosso país. Queremos construir um movimento cada vez mais amplo de todos os
partidos, organizações e pessoas de boa vontade que desejam a volta da paz e da
concórdia ao nosso país — discursou.
O ex-presidente se disse ainda perseguido
em razão das acusações de corrupção que enfrentou, mas tentou garantir que,
caso eleito, não governará olhando para o passado:
— Não esperem de mim ressentimentos, mágoas
ou desejos de vingança. Primeiro, porque não nasci para ter ódio, nem mesmo
daqueles que me odeiam. Mas também a tarefa de restaurar a democracia e
reconstruir o Brasil exigirá de cada um de nós um compromisso de tempo
integral. Não temos tempo a perder odiando quem quer que seja.
De acordo com Lula, Bolsonaro usa as brigas
para mascarar a sua incompetência.
— Não faremos jamais como o nosso
adversário, que tenta mascarar a sua incompetência brigando o tempo todo com
todo mundo
Lula também fez referência às crises de
Bolsonaro com outros Poderes:
— É imperioso que cada um volte a tratar dos assuntos de sua competência. Sem exorbitar, sem extrapolar, sem interferir nas atribuições alheias. Chega de ameaças, chega de suspeições absurdas, chega de chantagens verbais, chega de tensões artificiais. O país precisa de calma e tranquilidade para trabalhar e vencer as dificuldades atuais. E decidirá livremente, no momento que a lei determina, quem deve governá-lo.
Ao final, falando de improviso, Lula
conclamou os apoiadores a não terem medo:
— Ninguém pode ter medo de provocação. É
proibido ter medo de provocação, de fake news via "zap", Instagram.
Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorriso, carinho,
amor, paz e criando harmonia.
A fase inicial da fala foi toda dedicada à
defesa da soberania nacional. Lula acusou o atual governo de fazer de tudo para
entregar a Eletrobras “a toque de caixa e a preço de banana”. Também se colocou
contra a venda da BR Distribuidora:
— Defender nossa soberania é defender a
Petrobras, que vem sendo desmantelada dia após dia. Colocaram à venda as
reservas do pré-sal, entregaram a BR Distribuidora e os gasodutos,
interromperam a construção de algumas refinarias e privatizaram outras (...)
Nós precisamos fazer com que a Petrobras volte a ser uma grande empresa nacional,
uma das maiores do mundo.
O petista ainda citou realizações de seu
governo, como o Bolsa Família, o Luz para Todos e o Prouni:
— Tudo o que fizemos e o povo brasileiro
conquistou está sendo destruído pelo atual governo. O Brasil voltou ao Mapa da
Fome da ONU, de onde havíamos saído em 2014, pela primeira vez na História.
Ao fim de sua fala, Lula fez elogios à
ex-presidente Dilma Rousseff, que estava presente no ato. O ex-presidente disse
estar feliz que a sua sucessora estava lá. A plateia aplaudiu com entusiasmo
e gritou o nome de Dilma. O ex-presidente afirmou, porém, que a sua sucessora
não fará parte de seu governo. Na frase, também citou o ex-ministro José
Dirceu:
— As pessoas perguntam: você vai levar a
Dilma para o ministério, vai levar o Zé Dirceu? Nem eu vou levar, mas jamais a
Dilma caberia no ministério porque a Dilma tem a grandeza de ter sido a
primeira mulher a ser presidente do Brasil.
No espaço de eventos, na Zona Norte da
capital paulista, os organizadores informaram terem reunido 4 mil pessoas, a
maioria deles vestidos de vermelho, cor do PT. Ao fundo do palco, foi exibida
uma bandeira do Brasil.
Antes da fala de Lula, a sua noiva, a
socióloga Rosângela da Silva, a Janja, apresentou um vídeo com imagens de
cantores famosos, como Zélia Duncan, Otto, Lenine, Martinho da Vila e Maria
Rita, cantando jingle da campanha do petista de 1989. Segundo Janja, esse era o
seu presente de casamento. Eles vão oficializar a união no próximo dia 18.
Freixo vira 'Freire'
Pouco antes do discurso de Lula, a cantora
Teresa Cristina cantou o hino nacional. Ela fez questão de corrigir a
apresentação do evento, que anunciou a presença do pré-candidato ao
governo do Rio pelo PSB, Marcelo Freixo, como "Marcelo Freire". A
chef Bela Gil subiu ao palco e discursou dizendo que a "esperança vai
vencer o ódio", defendendo Lula como "homem do povo",
mencionando "perseguição" contra o petista. Paulo Miklos,
ex-vocalista do Titãs, foi um dos apresentadores do evento. Ele falou sobre a
prisão de Lula e, depois, da invalidação das ações penais após decisão do
Supremo Tribunal Federal (STF), devolvendo os direitos políticos ao
ex-presidente.
Na transmissão oficial do evento pelo
YouTube, o PT exibiu vídeos de Lula em encontro com jovens em Heliópolis, na
periferia de São Paulo, e depoimentos incentivando o registro do título
eleitoral. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo menos dois milhões
de jovens entre 16 e 17 tiraram novos títulos, número 47,2% maior do que o
registrado em 2018. O prazo terminou nesta quarta-feira (04/05). Em outro
vídeo, a inflação foi o tema, com declarações de donas de casa dizendo não
estarem mais aguentando a alta dos preços, com fotografias e vídeos de pessoas
em supermercados.
Um outro vídeo foi dedicado aos povos
indígenas, com discurso de Lula prometendo criar um ministério específico para
discutir as "questões indígenas".
A transmissão da Rede TVT também mostrou
depoimentos ao vivo, antes do discurso de Lula, com representantes de
evangélicos, religiões de matriz africana e muçulmanos declarando apoio ao
petista.
No chat do YouTube, no entanto, militantes
bolsonaristas disputavam espaço ao vivo com petistas, com xingamentos e
palavras de ordem.
No pavilhão, o PT pendurou faixas com o slogan “Vamos juntos pelo Brasil” abaixo dos nomes de Lula e Alckmin e com as siglas dos partidos que já fazem parte da aliança com o PT: PCdoB, PV, PSB, Solidariedade, Rede e PSOL.
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