Folha de S. Paulo
No coração do poder, partidos respaldam até
o projeto golpista do presidente
Alguns meses depois
do impeachment de Dilma Rousseff, o presidente do PP enxergou uma
oportunidade. Ciro Nogueira dizia que seu projeto era tornar a sigla uma versão
brasileira do Partido Republicano dos EUA. Depois de anos dentro de governos do
PT, a ideia era apresentar uma legenda de direita, abertamente conservadora e
defensora de valores liberais na economia.
A adesão da sigla a Jair Bolsonaro acelerou
esse projeto. Em consórcio com outras legendas do centrão, o PP passou a
cumprir um papel semelhante ao do
partido que elegeu Donald Trump: endossou a agenda populista do presidente,
acomodou seus movimentos radicais e passou a oferecer respaldo institucional a
suas ameaças golpistas.
O centrão começou o governo em conflito com a tropa de choque bolsonarista que chegou ao Congresso em 2019. Hoje, os dois grupos estão do mesmo lado, com a missão de manter o presidente no poder.
Os principais políticos do centrão sempre
foram de direita —mesmo quando apoiavam o PT ou simulavam alguma resistência
aos planos de Bolsonaro, no início do governo. O que determina o comportamento
desses atores não são suas convicções, mas o acesso que têm aos cofres e
corredores do poder.
Depois que PP, PL e Republicanos receberam
passe livre para esses espaços, os três partidos passaram a sustentar
Bolsonaro pela via conservadora. Na Casa Civil, o hoje ministro Ciro Nogueira
disse que a vitória de Lula em outubro representaria uma "volta ao
atraso". Já Arthur Lira lembrou, em entrevista ao jornal Valor Econômico,
que lidera um Congresso de centro-direita.
Esse trio de partidos também reforça a
estrutura política que Bolsonaro usa em seus ataques à democracia. A Câmara de
Lira acoberta extremistas a serviço do presidente, enquanto o PL de Valdemar
Costa Neto deve servir de veículo legal para contestações às urnas.
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