Folha de S. Paulo
Situação deve piorar no meio do ano e
discurso de campanha vai afetar 2023
Como as campanhas de Lula da Silva (PT) e
de Jair
Bolsonaro (PL) vão reagir às agitações da economia até a eleição?
Além do risco de novos choques mundiais,
prevê-se reviravolta ruim a partir de junho. As mudanças aqui e na economia
mundial vão limitar ainda mais as possibilidades e a margem de erro do governo
que assume em 2023. O peso do que os candidatos favoritos disserem na campanha
será, pois, maior, talvez com efeitos imediatos na vida do país.
O desempenho
do PIB no primeiro trimestre deve ter sido bom. Para os economistas do
Itaú, o crescimento foi de 1% ante o trimestre final de 2021. No segundo
trimestre, seria de 0,6%. Para os da XP, de 0,8% e 0,4% respectivamente. A
partir de julho, o PIB afundaria cerca de 1% por trimestre.
Se o desempenho do PIB no primeiro
trimestre foi bom, talvez o melhor do ano, e a dureza é tão grande, como será a
vida se voltar a piorar?
A primeira metade do ano, afora choques agudos novos, será de aumento do número de pessoas ocupadas, ainda que com os menores salários da década. Em um ano, mais de 8 milhões de pessoas arrumaram algum trabalho.
Mais emprego, medidas do governo (FGTS,
antecipação do 13º do INSS, descontos de impostos etc.), reabertura de serviços
e preços de commodities ajudaram a despiorar a confiança econômica e a
compensar, ao menos na opinião política, o efeito da inflação.
Os candidatos serão lançados oficialmente
entre julho e agosto, quando a economia já estaria se molhando no vinagre, a se
confirmarem os prognósticos. A campanha na TV e no rádio começa apenas em 26 de
agosto, 37 dias antes do primeiro turno.
A inflação continuará em 10% ao ano até
setembro; a carestia da comida será ainda maior. Alta
de juros, retração do crédito, fim do efeito das medidas eleitoreiras,
incerteza política e mal-estar mundial tendem a fazer o resto do estrago.
Talvez até lá o Congresso-bomba, aloprado e/ou bolsonarista, pode ter piorado
ainda mais as perspectivas.
Bolsonaro teria então ainda menos a dizer
sobre economia. Além do histórico de desgoverno, as notícias seriam ruins.
Espera-se uma campanha de guerra cultural, lixo nas redes, trituração de Lula
("corrupto, comunista, contra a família" etc.) e ameaça de golpe.
Seria, ainda assim, uma situação propícia
para a oposição –se confirmadas as previsões econômicas, ressalte-se. Mas a
situação não será simples também por outros motivos.
A perspectiva para 2023 é de crescimento do
PIB ainda menor, receita do governo aumentando menos e dívida pública em alta,
tudo sequelado por juros maiores. Mesmo que a economia mundial não embique para
a recessão, vai esfriar. A propensão a investir em zonas de risco, PIB pífio e
incerteza política (Brasil) vai diminuir. As pressões sobre o governo de 2023
serão grandes e com potencial de tumulto (socorros sociais, reajuste de
servidores, ilusão de soluções imediatas etc.).
Um candidato favorito que proponha mágicas
para lidar com essa situação e, de resto, não tenha um plano de reformas
críveis ("liberais" ou outras) pode criar tumulto já em 2022, detonar
as perspectivas de seu possível governo ou atrair para si retaliações ainda
durante a disputa eleitoral.
Pode haver surpresa positiva e um terceiro
trimestre ainda sem vinagre –se a tensão financeira nos EUA diminuir, com paz
na Ucrânia, recuperação chinesa, famílias remediadas do Brasil torrando um
pouco mais de sua poupança. Mas pode ser que ocorram acidentes, como uma crise
financeira americana grave.
Um candidato prestante terá de saber navegar por essa maré de azares se quiser evitar o naufrágio nas urnas ou, depois, do país.
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