quarta-feira, 8 de junho de 2022

Alvaro Gribel: Os erros em série nos combustíveis

O Globo

Perda de arrecadação com projetos que subsidiam os combustíveis pode anular os ganhos da reforma da Previdência

Coube ao economista-chefe do Verde Asset, Daniel Leichsenring, fazer o alerta em uma rede social: “O efeito do projeto da queda eleitoreira do ICMS equivale a toda a reforma da Previdência.” Pelas contas dos estados, o teto de 17% no imposto provocará perdas acima de R$ 115 bilhões por ano. Já a PEC apresentada na segunda-feira pode custar mais R$ 50 bilhões ao Tesouro Nacional. O governo diz que ela terá validade até dezembro, mas o mercado dá como certo que a votação em dois turnos no Congresso vai aumentar o tamanho dessa conta.

A PEC dos combustíveis é o terceiro projeto mal elaborado em poucos meses pela equipe econômica e as principais lideranças da Câmara e do Senado. O primeiro mudou a forma de cobrança do ICMS, em março, e teve impacto zero nas bombas. O segundo, aprovado na Câmara, estabelece o teto na alíquota do imposto. Agora, o governo fala em zerar os impostos federais e estaduais, compensando uma pequena parte do rombo nas finanças dos estados e municípios. As três propostas juntas formam um compêndio de erros na economia: subsidiam os mais ricos, estimulam o consumo de combustíveis fósseis e aumentam o risco fiscal.

Com o olhar voltado para as eleições de outubro, o improviso tem marcado as ações do governo nos combustíveis.

Olhos sobre a Petrobras

A Petrobras ficará em uma encruzilhada assim que a PEC for aprovada. Essa é a visão do presidente da Abicom, Associação dos Importadores de Combustíveis, Sérgio Araújo. Por um lado, se a empresa zerar a defasagem no diesel e na gasolina, hoje em 13% e 15%, respectivamente, os ganhos da PEC poderão ser praticamente anulados. Ou seja, o esforço do governo terá sido em vão. Por outro, se ceder à pressão política e mantiver a disparidade, irá sufocar o mercado de importação, agravando o risco de desabastecimento. “A Petrobras precisa zerar a defasagem, isso é crucial para o mercado de importação”, diz Araújo. Segundo ele, de 200 empresas importadoras, somente cinco têm realizado importações este ano, incluindo a própria Petrobras e outras grandes do setor, como Ipiranga, Vibra e Raízen.

Herança maldita

A PEC causou apreensão até em economistas mais pragmáticos ligados ao PT. Como o programa, por ora, vai até 31 de dezembro, a avaliação é que, em caso de vitória do ex-presidente Lula nas eleições de outubro, será difícil começar o mandato sem a prorrogação dos subsídios. Do contrário, haverá um forte aumento dos preços, de uma hora para outra. Prolongar os efeitos da PEC, porém, terá alto custo fiscal no primeiro ano de mandato, o que colocará o novo governo sob a desconfiança do mercado financeiro. A lógica também vale em caso de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

Custo de longo prazo

O banco americano Goldman Sachs elevou para US$ 135 sua estimativa para o preço médio do barril do tipo Brent nos próximos 12 meses. Na avaliação dos economistas do banco, somente nesse patamar haverá estímulo para a recuperação dos níveis de produção e estoques. Ontem, o índice de preços das commodities medido pela Bloomberg bateu recorde histórico. O caminho do subsídio, ao que tudo indica, será uma conta impagável para o país.

Omissão em Pernambuco

Desde 2020, o governo federal não envia recursos do Programa de Gestão de Riscos e Desastres a Pernambuco. Segundo o Painel do Orçamento Federal, o estado tinha R$ 50 milhões a receber nesse período, mas nada foi liquidado. Depois que as chuvas provocaram a morte de 129 pessoas, Bolsonaro sobrevoou a capital Recife, prometendo ajuda. O governo é omisso no mais importante, que é o financiamento na prevenção aos desastres. Quando já é tarde, libera recursos para reconstrução e socorro.

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