Folha de S. Paulo / O Globo
O TCU-Tours é parte de uma anomalia muito
maior
Deve-se ao repórter Tácio Lorran a
revelação de que alguns ministros do Tribunal de Contas da União custam mais
com viagens e diárias do que com os salários que remuneram seu trabalho. Bruno
Dantas, por exemplo, tem vencimentos de R$ 37.300 brutos e custou R$ 43.517
entre 25 de fevereiro e 13 de março, indo a Polônia, Arábia Saudita, Áustria e
França. Ele não é o único, nem o TCU está sozinho nessas prebendas. As viagens
de instrução, bem como seminários de curta duração, geralmente coincidindo com
os feriadões nacionais, ganharam até o apelido de “farofas”.
O TCU é encarregado de vigiar as despesas feitas com dinheiro da Viúva. Logo ele, mete-se em turismo de primeira e se explica com argumentos de segunda: “Os preparativos para a gestão brasileira exigem contato constante com instituições de outros países e, naturalmente, isso exige deslocamento de autoridades da Casa para reuniões de trabalho e compromissos de cunho científico”.
Contem outra. O TCU brasileiro nada tem a
aprender na Arábia Saudita ou na Polônia. O trabalho de instituições francesas
e austríacas pode ser acompanhado sem a necessidade de viagens.
O ministro Vital do Rêgo custou R$ 92.700
entre fevereiro e maio (R$ 53.800 em passagens), inclusive para ir ao Congresso
da Carosai. A sigla significa Caribbean Organization of Supreme Audit
Institutions. Ganha um fim de semana num carimbo ilegal quem for capaz de dizer
o que as instituições caribenhas têm a ensinar, hospedando milionários e
paraísos fiscais. O congresso aconteceu em Aruba, joia do veraneio do andar de
cima. O Haiti fica no Caribe, mas ninguém vai para lá.
Nos últimos cinco meses, o ministro Bruno
Dantas esteve em oito países. Admita-se que havia o que fazer no Paraguai, Uruguai,
Argentina, México, Peru e Equador. Restam Índia e Egito, capitais a que quase
sempre se chega passando por Paris.
É comum que profissionais liberais
endinheirados usem congressos e seminários em locais aprazíveis para enforcar
feriados. Como eles fazem esse turismo com seus recursos, noves fora a Receita
Federal, ninguém tem nada a ver com isso. O caso dos hierarcas é outro, pois
usam dinheiro público, faltam ao serviço e, em alguns casos, são acompanhados
por assessores.
O Tribunal de Contas da União presta
inestimáveis serviços. Foi ele quem matou a maluquice do trem-bala e quem
destampou a panela das diárias dos procuradores da Operação Lava-Jato. Um deles
chegou a receber R$ 506 mil em diárias e R$ 186 mil em passagens. Os pagamentos
eram impróprios, mas os doutores sempre poderiam dizer que estavam trabalhando
em Curitiba. Os hierarcas do TCU, bem como os magistrados que recorrem ao mesmo
expediente, raramente poderão usar o mesmo argumento. (Deixe-se de lado o fato
de alguns seminários remunerarem palestras, pois esse é outro capítulo do
volume dos mimos oferecidos a diversas atividades profissionais.)
Vá lá que o TCU seja independente e se chame de tribunal sem integrar o Poder Judiciário. Vá lá que seus integrantes se intitulem ministros. Mas, pelo menos, não deveria produzir contas que ofendem o bom senso dos contribuintes.
Um comentário:
Isto é uma vergonha,como diria o outro.Aliás,este ''outro'',escolhe sempre o lado mais vergonhoso da História pra atuar.
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