O Globo
Uma ditadura não se impõe apenas pela força
das armas. Depende do apoio de civis interessados em extrair vantagens do
arbítrio. Em 1964, políticos, empresários e setores da classe média
incentivaram os militares a dar o golpe. Uniram-se pela resistência às reformas
de base, pelo medo do comunismo e pelo desejo de ocupar o poder sem a obrigação
de vencer eleições.
Depois das primeiras levas de cassações, a
ditadura extinguiu os partidos políticos e impôs um sistema de duas legendas. A
oposição consentida se agrupou no MDB. Os governistas fundaram a Arena, que
chegou a se apresentar como o “maior partido do ocidente”. Um dos próceres da
sigla, Célio Borja, morreu ontem aos 93 anos.
Ex-udenista, professor de direito, Borja
chegou ao Congresso no governo Médici. Sua ascensão coincidiu com os anos de
chumbo, quando a ditadura usou o AI-5 para prender adversários e amordaçar a
imprensa. Em 1974, já sob o governo Geisel, virou líder da Arena. No ano
seguinte, foi alçado à presidência da Câmara.
Quando o golpe fez 50 anos, o jurista recebeu um repórter em seu escritório em Copacabana. Entre bicadas no cafezinho, saiu em defesa dos antigos chefes: “Ditadura, nunca houve. O que se podia dizer é que havia um regime de plenos poderes”. Sobre o ex-presidente João Goulart, que morreu no exílio, opinou: “Era um pobre homem. Quando muito, um aprendiz de caudilho, despreparado para governar”.
A Arena acabou, mas seu espírito sobrevive
nos partidos do Centrão. O bloco está sempre pronto a aderir. Topa até apoiar
um novo golpe, desde que as torneiras do Orçamento permaneçam abertas.
Ontem dois ex-arenistas subiram ao palanque
de Jair Bolsonaro em Maceió: o ex-presidente Fernando Collor, de quem Borja foi
ministro da Justiça, e o ex-senador Benedito de Lira, pai do atual presidente
da Câmara. A dupla parecia perturbada com a situação do governo nas pesquisas.
Collor discursou aos gritos, e Lira expulsou um homem da plateia aos palavrões.
Os veteranos da velha Arena sabiam perder com mais elegância. Derrotado na eleição de 1982, a última antes do fim da ditadura, Borja saiu à francesa e foi tocar a vida no setor privado. Anos depois, voltaria à ribalta como ministro do Supremo. Foi convidado por José Sarney, outro civil que colaborou com o regime dos generais.
Um comentário:
Minha família inteira votou no Collor,eu torcia contra,já era de esquerda,mesmo sem saber.
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