De pronto, cabe ressaltar, que a iniciativa
de democratizar o debate é extremamente positiva. Todas as candidaturas deviam
fazê-lo. A federação PSDB-Cidadania tem também se esforçado para produzir uma
dinâmica participativa com a realização do seminário “Um Novo Rumo para o
Brasil” e a promoção do “Curso Preparatório para Candidatos, Candidatas e suas
assessorias”, que contou com mais de 1500 inscritos.
Um dos traços mais preocupantes na
democracia brasileira é a fragilidade dos partidos. Pouquíssimos entre os 32
registrados no TSE têm uma visão e um projeto de país. A maioria se rende ao
pragmatismo mais raso.
Dito isto, vamos ao documento. Há uma preocupação da candidatura Lula em tentar atrair o centro. Para isto, não basta colocar Geraldo Alckmin como candidato à vice. Seria necessário um movimento programático, substantivo e não cosmético, em favor de uma nova agenda de desenvolvimento nacional. Isto o documento não oferece, mais revive o passado do que projeta o futuro.
A minha opinião é clara. Mais do que um
direito, é um dever do centro democrático lançar uma ou duas candidaturas que
encarnem um olhar diferente dos dois candidatos que polarizam a eleição. Até
mesmo para dialogar e interagir com as candidaturas Lula e Bolsonaro, realçando
convergências e divergências à luz do dia, sob o controle social da população.
O documento além das obviedades de sempre, demonstra
a dificuldade do PT e seus aliados de esquerda de avançar para uma visão mais
contemporânea do cenário presente no século XXI.
Há resquícios de um
nacional-desenvolvimentismo anacrônico presente na contraposição entre mercado
interno e comércio exterior e uma clara incompreensão sobre a necessidade do
Brasil se conectar às grandes cadeias produtivas globais. A denúncia de um
certo “neoliberalismo”, não dá lugar a uma visão clara sobre o papel do Estado
nas sociedades atuais.
A proposta de revogação da reforma
trabalhista, que tantos avanços trouxe, e do teto de gastos, revela a
permanência de uma visão econômica regressiva e alimenta as desconfianças sobre
a reedição da “Nova Matriz Econômica” do Governo Dilma, que nos levou à maior
recessão de nossa história. Na política cambial o texto é ambíguo e dá margem à
interpretação de um intervencionismo indesejável. Nas reformas política, da
previdência e tributária nada fica claro. O apego ao passado vem à tona ao se
advogar a retomada de programas como o “Mais Médicos” e “Minha Casa, minha
vida”, desconsiderando que a realidade exige novas respostas.
Em relação às privatizações, permanecem os
velhos preconceitos antimercado e a imagem do Estado plenipotenciário e
onipresente. Na política externa “ativa e altiva” fica ainda nas entrelinhas o
cheiro de um falso protagonismo terceiro-mundista com pitadas de
bolivarianismo. Quanto à liberdade de imprensa há uma “vírgula” que incomoda. E
o ponto que mais chama a atenção é a absoluta falta de qualquer autocrítica em
relação aos casos de corrupção ocorridos e aos efeitos desastrosos da política
econômica de Dilma.
Quiçá possamos avançar o debate nacional.
Afinal, o importante é legitimar ideias para o futuro e não destruir pessoas.
*Marcus Pestana, economista, Presidente do
Conselho Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
Um comentário:
O PT vai ser sempre... O PT,disse o Marcus Pestana que nunca foi Marcos.
Postar um comentário