Revista Veja
Na lida com o meio ambiente, o Brasil de
Bolsonaro só piorou
Junho é o mês da conscientização ambiental.
No dia 5 se comemorou o Dia Mundial do Meio Ambiente. O Dia Nacional da
Educação Ambiental foi dia 3. O Dia Mundial dos Oceanos, 8. Dia 13 é o
aniversário do primeiro Jardim Botânico do Brasil. E dia 17 é o Dia Mundial de
Combate à Desertificação.
Meio ambiente, como se sabe, é tema no qual
o Brasil, dono da maior floresta úmida do mundo, se destaca. De acordo com o
Imazon, o desmatamento em 2021, de mais de 10 000 quilômetros quadrados,
foi o maior desde 2008: um crescimento de 29% em relação
aos mais de 8 000 quilômetros
quadrados de 2020 (até então o maior da década). Segundo o Ipam, o desmatamento
na Amazônia cresceu 56,6% no governo Bolsonaro. A Amazônia é só o aspecto mais
crítico de um problema que alcança todos os biomas do país.
Ninguém deve se surpreender. Desde a posse, Jair Bolsonaro fez de tudo para inviabilizar o combate ao desmatamento. Seu ministro Ricardo Salles demitiu 21 dos 27 superintendentes do Ibama, e nomeou gente que nada entendia do assunto. No ICMBio, substituiu os profissionais da área por PMs. Cortou os orçamentos, engessando os órgãos ambientais. Reduziu o número de analistas e fiscais e aumentou a burocracia. Elogiou madeireiros ilegais (“homens de bem”) que haviam incendiado um caminhão-tanque do Ibama. O Brasil aplica hoje o menor número de multas por crimes ambientais em vinte anos, menos da metade do que já foi.
Combater o desmatamento é garantia de
exoneração. Ricardo Galvão, do Inpe, caiu porque provou que o desmatamento
estava aumentando. O superintendente da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, que
apresentou notícia-crime contra Salles por atrapalhar o trabalho da Polícia
Federal, foi transferido para o Rio de Janeiro (o ministro ficou onde estava).
No Congresso, o governo garantiu anistia a
desmatadores, avançou com o “PL da Grilagem” e aprovou o menor orçamento para
proteção de florestas em vinte anos. Bolsonaro hostiliza nações amigas, mentiu
na ONU que o Brasil não desmata e, na COP-26, prometeu metas que não pretende
cumprir. A narrativa de que os países desenvolvidos seriam os “culpados” pelo
aquecimento global caiu: o site Carbon Brief informa que, desde 1850, o Brasil
é o quarto maior emissor.
Primeiro de junho foi o Dia da Imprensa e
7, o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Em 2020, a família Bolsonaro atacou
a imprensa 469 vezes; em 2021, foram 331 só no primeiro semestre. Segundo a
Federação Nacional dos Jornalistas, em 2021 a Empresa Brasil de Comunicação,
órgão governamental, censurou seus jornalistas 138 vezes. Só a ditadura foi
mais hostil.
Quando o indigenista Bruno Pereira e o
jornalista Dom Phillips desapareceram na Amazônia, Bolsonaro afirmou que a
“aventura” dos dois não era “recomendável”, culpando as vítimas pelo ocorrido.
E que “torcia” para que fossem encontrados, como se fosse mero observador. O
Exército soltou uma nota vinculando uma missão de busca e salvamento ao
“Escalão Superior”, sugerindo que Bolsonaro não teria autorizado a ação.
Em 1985, o deputado Fernando Lyra definiu
José Sarney como “vanguarda do atraso”. Era um elogio. Se estivesse vivo, Lyra
diria que o Brasil de hoje é a retaguarda do atraso.
Publicado em VEJA de 15 de junho de 2022, edição nº 2793
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