Folha de S. Paulo
Pela reeleição Bolsonaro e Guedes querem
que empresas manipulem preços
Jair Bolsonaro (PL) quer que supermercados
diminuam seus lucros a fim de conter a carestia e, assim,
evitar a eleição de Lula da Silva (PT) e a volta do "populismo"
(aquele que nunca foi embora).
Entre vários problemas, trata-se de: 1)
Sugestão de crime contra a ordem econômica; 2) Mais estelionato eleitoral:
fazer demagogia e mentir agora para tudo explodir depois da eleição; 3) Pedido
indireto para que empresas deem dinheiro para a reeleição; 4) Indício de como
um governo autoritário pode meter a mão em empresas, preços e muito mais; 5) A
desmoralização final ou adicional do "liberalismo" de
Bolsonaro-Guedes.
Paulo Guedes detalhou o plano, quase em tom de ordem. "Empresários precisam entender que temos que quebrar a cadeia inflacionária. Estamos em hora decisiva para o Brasil. Nova tabela de preços só em 2023. Trava os preços, vamos parar de aumentar os preços", disse o ministro da Economia. Bolsonaro e Guedes falaram em um encontro da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Admita-se a hipótese improvável, por assim
dizer, de que os empresários de supermercados decidam pagar esse imposto
voluntário, um oximoro, uma contradição em termos, e contenham
lucros e preços até o final deste ano e, na virada para 2023, "nova
tabela". Isso é conluio para manipulação de preços. É crime.
Claro que a Abras pode se declarar para
todo o sempre uma congregação caritativa, com margem simbólica de lucros, com o
que Guedes poderia ser beatificado e ganhar um Nobel sem ter escrito um artigo
científico, um reconhecimento pela prática de política econômica milagrosa.
Claro que tudo isso é sarcasmo. Mas a
demagogia aloprada dá o que pensar.
Bolsonaro, Guedes e
seus regentes do centrão querem abrir mão de impostos e endividar o governo a
juros de 13% ou 14% ao ano a fim de baixar o preço de combustíveis até o final
do ano. Ou os preços aumentam a seguir, "nova tabela" em 2023, ou se
faz ainda mais dívida pública. Ou Guedes 2 vai fazer um arrocho geral de
despesa? Vai? Ainda nesta quinta-feira prometeu reajuste geral para os
servidores em 2023.
O resumo da ópera é: querem jogar a conta e
a culpa pelo fracasso econômico nas costas de empresários e estados (ou tirar
dinheiro deles para baratear gasolina e diesel). Mas dão indícios de coisa
pior: de que fazem mesmo qualquer negócio, à luz do dia, a céu aberto.
Mentem descaradamente: sobre
"liberalismo" ou aliança com o centrão, tentam desacreditar fatos
básicos sobre epidemia, desmatamento, desemprego ou pesquisas eleitorais. Pode
ser também que metam a mão na sua empresa ou no futuro dos seus negócios. Ou,
então, pode ser que o esfolamento do povo recomece de modo mais descarado a
partir do ano que vem, "nova tabela" em que o couro do cidadão vai
custar mais barato.
Sob Bolsonaro 2,
com mais poder no Supremo, com um Congresso vitaminado de centrão, o governo
pode, por exemplo, cassar sua concessão de rádio e TV e dar para um amigo do
nacional-mensalismo, essa aliança de extrema direita com mensaleiros que é o
bolsonarismo.
Pode ter intervenção em preço. Ou no preço
da sua empresa. Você não bajulou o governo? Vai ter de encarar um governo "terrivelmente
liberal" —a ditadura militar já fez isso.
Sim, os preços devem cair se passar o
pacotaço dos combustíveis de Bolsonaro e turma. As expectativas de inflação
para 2023 já aumentam. A taxa de juros vai ficar alta ou mais alta por mais
tempo. A dívida pública vai aumentar ou haverá um arrocho de gastos públicos.
Gente do governo já propôs privatizar a saúde. Bolsonaro 2 vai estar ainda mais
livre para tocar o terror.
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