sexta-feira, 10 de junho de 2022

Rogério Furquim Werneck: Lula e seus eleitores

O Globo

O que estamos vendo é que o candidato petista insiste em um discurso econômico que em nada o ajuda

Tenho arguido aqui que, para conquistar o eleitorado de centro, Lula teria de se mover para o centro, no eixo que verdadeiramente importa, que é o da condução da política econômica. Mas houve quem discordasse, com uma indagação que faz sentido: por que razão Lula faria isso, quando já há pesquisas sugerindo que ele poderia ser eleito no primeiro turno?

Posso tentar ser mais claro. De forma ultraesquemática, podemos classificar os eleitores de Lula em três tipos. Há uma massa gigantesca deles formada pelo sólido eleitorado petista, que jamais negou voto a candidatos do partido à Presidência. Chamemos tais eleitores de Tipo 1.

Mas, na eleição deste ano, Lula também contará com um contingente considerável de eleitores do Tipo 2. Não petistas que nutrem tamanha aversão a Bolsonaro que estão dispostos a votar em Lula de olhos fechados, para evitar, a qualquer custo, o “pesadelo da reeleição”.

O problema é que tudo indica que as dezenas de milhões de eleitores desses dois tipos não seriam capazes, por si só, de assegurar a vitória de Lula na disputa presidencial. Para ser eleito, Lula precisa conquistar votos de eleitores do Tipo 3. Gente que também tem aversão por Bolsonaro, mas não acha nenhuma graça em Lula. E que, até as eleições, estará imersa em reflexões sobre qual candidato lhe desperta menos aversão.

Só Deus sabe por que eleitores do Tipo 3 não acham graça em Lula. Mas não lhes faltam razões. Podem, por exemplo, ter ficado chocados com o alastramento da corrupção nos governos petistas e com as proporções do petrolão. Ou podem não se ter esquecido nem do colossal descarrilamento da economia provocado pelo último governo petista, nem de ter sido de Lula, e só dele, a ideia de alçar Dilma Rousseff à Presidência da República.

Não obstante o que agora sinalizam as pesquisas, ainda faltam mais de três meses e meio para o primeiro turno. E Lula bem sabe que, com a selvagem campanha eleitoral que vem por aí, esse seu vasto telhado de vidro pode vir a ser seriamente avariado.

Tendo em vista sua longa e inarredável postura negacionista sobre a corrupção nos governos petistas, é difícil imaginar o que o candidato ainda poderia alegar, a esta altura, sobre o petrolão e escândalos afins. O que lhe resta, caso ainda pretenda quebrar a resistência de eleitores do Tipo 3, é tentar mudar seu discurso para convencê-los de que a política econômica que adotaria nada teria a ver com o alarmante voluntarismo inconsequente que continua a fascinar o PT.

Não é o que Lula tem feito. Sua aposta é outra. Que, cedo ou tarde, milhões de eleitores do Tipo 3 passarão a ser do Tipo 2. Aposta arriscada. Inclusive porque não é bem verdade que eleitores do Tipo 2 estejam todos dispostos a votar em Lula de olhos totalmente fechados.

Muitos se preocupam com o que Lula fará com a política econômica. Mas, para se tranquilizarem quanto a isso, recorrem a um truque mental. Um autoengano que, com contorcionismos verbais variados, remonta, em última análise, a ter como dogma que “Lula é pragmático, jamais será irresponsável na condução da política econômica”.

É só um dogma. Não uma constatação baseada em fatos. E quais são os fatos? O primeiro mandato de Lula teve início em 2003, há quase 20 anos. Já em 2005, Lula entregou a Casa Civil a Dilma. Em 2006, substituiu Palocci por Mantega. E, em 2007, permitiu que Dilma entregasse a Secretaria do Tesouro a Arno Augustin.

Tendo desfraldado a bandeira da nova matriz econômica, enfiou a candidatura de Dilma pela goela abaixo do PT. E depois de elegê-la, em clima de euforia fiscal, em 2010, a reelegeu, em 2014, ao cabo de uma gestão econômica desastrosa, de que só mesmo Dilma, Mantega e Arno seriam capazes.

Não bastasse tudo isso, Lula só vem dando declarações despropositadas e irresponsáveis sobre o que fará com a condução da política econômica, se vier a ser eleito.

São fatos que em nada respaldam o dogma a que eleitores do Tipo 2 tentam se agarrar.

E, a cada declaração de Lula, mais extenuantes se tornam seus esforços de autoilusão.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Da pena forma com que você se refere ao Lula o povo tem que se livrar dessa sina o Lula já deu o que tinha que dar corrupção destruição da economia desemprego e inflação em recessão vocês estão todos no barco dos multimilionários todo sabedor não estão apoiando a nova ordem porque sabem que Lula pode levar o Brasil a bancarrota

ADEMAR AMANCIO disse...

Tem gente que nunca gostou do Lula sem motivo nenhum,a Regina Duarte,por exemplo,o ''eu tenho medo'' é de 2002,quer dizer,só pode ser preconceito.Lembrei do Clodovil também,tem muitos,minha família mesmo.