quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Cristiano Romero - A 3ª fase de moderação do PIB da China

Valor Econômico

“Novo normal” pode cair para alta de apenas 3% ao ano

O mundo se acostumou, desde a década de 1990, a ver a economia chinesa crescer a taxas extraordinárias. Na primeira década deste século, o Produto Interno Bruto (PIB) da China avançou acima de dois dígitos durante quatro anos _ o pico foi a alta de 14,2% em 2007. Com a crise mundial de 2008, conhecida como a Grande Recessão, cujo epicentro foram as economias avançadas, o ritmo de crescimento chinês começou a moderar.

Em meados de 2007, a crise das hipotecas já havia atingido os Estados Unidos e iniciado o contágio das economias europeias. No mundo em desenvolvimento, em grande medida por causa da forte demanda da China por alimentos e matérias-primas, a turbulência nos principais mercados parecia algo distante, um problema que, acreditávamos, os ricos logo resolveriam.

Naquele ano, beneficiado pelo fato de produzir, com competência, o que os chineses buscavam no mercado internacional (além de bens de capital, principalmente da Alemanha, e tecnologia), o Brasil também acelerou o passo do crescimento _ o PIB avançou 6,1% em 2007, com a inflação razoavelmente sob controle (4,5%, na meta).

O curioso é que o mundo entrou em 2008 com a crise nos EUA e na Europa tornando-se cada dia mais severa e, mesmo assim, nem aqui nem em outros mercados emergentes havia devida preocupação com o fato de que, mais cedo ou mais tarde, as adversidades bateriam à nossa porta. Uma prova de que, no Brasil, acreditávamos que, daquela vez, não seríamos molestados por problemas no mercado "interno" americano foi a apreciação do real em relação em dólar _ em meados de 2008, a cotação do dólar, depois de chegar a R$ 4,00 durante o período eleitoral em 2002, caíra a R$ 1,50.

A confiança era tanta que grandes empresas brasileiras se encrencaram com derivativos cambiais, uma aposta de que o real continuaria se valorizando face à moeda americana_ se ocorresse o contrário, perderiam, e esta foi a história. No dia 15 de setembro de 2008, uma segunda-feira, o quase bicentenário Lehman Brothers, banco que ajudou a financiar o colosso econômico dos EUA, quebrou e a crise dos ricos se espalhou pelo restante do planeta num átimo.

Deu-se a partir da longa crise internacional a primeira fase de moderação da taxa de crescimento do PIB chinês, embora, em 2010, o país tenha voltado a avançar num ritmo expressivo _ 10,6%. Terá sido coincidência que, naquele ano, a economia brasileira crescera 7,5%, o melhor desempenho em 24 anos? A complementaridade entre as duas economias é, de fato, memorável, mas, evidentemente, só explica uma parte da história de uma suposta correlação entre os PIBs das duas economias. Enquanto a China se viu obrigada a moderar seu crescimento, o Brasil fez da segunda década deste século a mais "perdida" em 40 anos _ o crescimento médio anual foi de 0,5%.

É sabido que a China, diante da desaceleração provocada pela crise mundial, estimulou as províncias a adotarem políticas heterodoxas para financiar, a qualquer custo, o setor imobiliário, além de vultosas obras de infraestrutura. Estas ficam porque, adiante, ajudarão a economia a crescer mais rapidamente sem gerar inflação. Já a bolha provocada na habitação já está impondo seus custos.

"As estimativas de crescimento do PIB de vários bancos internacionais para a segunda maior economia do mundo, neste ano, foram recentemente revistas para patamares entre 2,5% e 3,3%. A produção industrial cresceu apenas 3,8% em julho em relação ao ano anterior, bem abaixo das expectativas de 4,5%", diz o economista Otaviano Canuto, um dos economistas brasileiros mais requisitados no exterior. Ele foi secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda na gestão Palocci (2003-2006). "Um verão excepcionalmente quente e seco vem estressando o fornecimento de eletricidade e levando a cortes de produção em certas províncias e em alguns setores onde o uso de energia é intenso. A crise no setor imobiliário da China continua prejudicando o desempenho econômico."

Habitação, observa Canuto, é um componente relevante na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), a taxa de investimento das economias. "Cresceu apenas 5,7% nos primeiros sete meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2021. No ano passado, esse número foi 10,3% maior em termos anuais a partir de julho."

As vendas no varejo em julho subiram apenas 2,7% em termos anuais, muito abaixo da expectativa de 5%. "Novos surtos de Covid-19 e os riscos de confinamento a que a população está exposta por estar em lugar e hora errados, além de afetarem o comércio varejista, também causaram impacto negativo sobre o turismo doméstico. A rigor, apenas as exportações mantiveram um bom ritmo."

Canuto, que depois de atuar como vice-presidente do Banco Mundial e do BID, além de diretor-executivo no FMI, passou a integrar os quadros de "think tanks" como o Brookings Institute, de Washington, e o Policy Center for the New South, do Marrocos, não acredita que o "novo normal" da economia chinesa, isto é, um crescimento do PIB em torno de 3% ao ano, seja capaz de provocar na economia mundial. Ele lembra o governo do presidente Xi Jinping se preocupa menos com a aceleração da economia neste momento e mais com a saíude das instituições financeiras e econômicas.

Isso explica a postura conservadora do Banco Popular da China, o banco central chinês, em oferecer estímulos financeiros. "Eles cortaram duas das principais taxas de juros na semana passada - as taxas de juros de recompra ('repo') nas operações de mercado aberto de um ano e de sete dias- em 10 pontos-básicos! E ontem (terça-feira) anunciou corte de 15 pontos-básicos na taxa de juros de operações de cinco anos, baixando-a para 4,30%, enquanto a taxa de um ano foi reduzida em mais 5 pontos-básicos para 3,65%", disse Canuto.

Além dos investimentos em infraestrutura, a China dedicou-se com afinco na década passada à tarefa de tornar-se também uma potência na área tecnológica. Tudo isso deve permitir à nação asiática voltar a crescer a taxas mais expressivas nos próximos anos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Em 2019, entrou o governo do. Bolsonaro já elevando inexplicavelmente o dólar. Que não parou mais de subir causando incômodos no Paulo Guedes que via com desespero empregadas domésticas indo para a Disneylândia e pessoas pobres tomando yogurt e pegando avião. Com o dólar cada vez mais caro e
encerrou- se o turismo e os pobres foram pegar os ossos que lhe restaram. Aí descobriram que o ministro tinha conta em dólares em paraísos fiscais e que a inflação garantiria o superávit para
os idiotas verem. Tal qual o pão duro do FHC , que nunca deu aumento para o funcionários públicos durante seu mandato , esse também nunca deu e nem corrigiu o Imposto de Renda como prometeu. Os dois piores governos que esse país já teve.