Valor Econômico
“Novo normal” pode cair para alta de apenas
3% ao ano
O mundo se acostumou, desde a década de
1990, a ver a economia chinesa crescer a taxas extraordinárias. Na primeira
década deste século, o Produto Interno Bruto (PIB) da China avançou acima de
dois dígitos durante quatro anos _ o pico foi a alta de 14,2% em 2007. Com a
crise mundial de 2008, conhecida como a Grande Recessão, cujo epicentro foram
as economias avançadas, o ritmo de crescimento chinês começou a moderar.
Em meados de 2007, a crise das hipotecas já
havia atingido os Estados Unidos e iniciado o contágio das economias europeias.
No mundo em desenvolvimento, em grande medida por causa da forte demanda da
China por alimentos e matérias-primas, a turbulência nos principais mercados
parecia algo distante, um problema que, acreditávamos, os ricos logo
resolveriam.
Naquele ano, beneficiado pelo fato de produzir, com competência, o que os chineses buscavam no mercado internacional (além de bens de capital, principalmente da Alemanha, e tecnologia), o Brasil também acelerou o passo do crescimento _ o PIB avançou 6,1% em 2007, com a inflação razoavelmente sob controle (4,5%, na meta).
O curioso é que o mundo entrou em 2008 com
a crise nos EUA e na Europa tornando-se cada dia mais severa e, mesmo assim,
nem aqui nem em outros mercados emergentes havia devida preocupação com o fato
de que, mais cedo ou mais tarde, as adversidades bateriam à nossa porta. Uma
prova de que, no Brasil, acreditávamos que, daquela vez, não seríamos
molestados por problemas no mercado "interno" americano foi a
apreciação do real em relação em dólar _ em meados de 2008, a cotação do dólar,
depois de chegar a R$ 4,00 durante o período eleitoral em 2002, caíra a R$
1,50.
A confiança era tanta que grandes empresas
brasileiras se encrencaram com derivativos cambiais, uma aposta de que o real
continuaria se valorizando face à moeda americana_ se ocorresse o contrário, perderiam,
e esta foi a história. No dia 15 de setembro de 2008, uma segunda-feira, o
quase bicentenário Lehman Brothers, banco que ajudou a financiar o colosso
econômico dos EUA, quebrou e a crise dos ricos se espalhou pelo restante do
planeta num átimo.
Deu-se a partir da longa crise
internacional a primeira fase de moderação da taxa de crescimento do PIB
chinês, embora, em 2010, o país tenha voltado a avançar num ritmo expressivo _
10,6%. Terá sido coincidência que, naquele ano, a economia brasileira crescera
7,5%, o melhor desempenho em 24 anos? A complementaridade entre as duas
economias é, de fato, memorável, mas, evidentemente, só explica uma parte da
história de uma suposta correlação entre os PIBs das duas economias. Enquanto a
China se viu obrigada a moderar seu crescimento, o Brasil fez da segunda década
deste século a mais "perdida" em 40 anos _ o crescimento médio anual
foi de 0,5%.
É sabido que a China, diante da
desaceleração provocada pela crise mundial, estimulou as províncias a adotarem
políticas heterodoxas para financiar, a qualquer custo, o setor imobiliário,
além de vultosas obras de infraestrutura. Estas ficam porque, adiante, ajudarão
a economia a crescer mais rapidamente sem gerar inflação. Já a bolha provocada
na habitação já está impondo seus custos.
"As estimativas de crescimento do PIB
de vários bancos internacionais para a segunda maior economia do mundo, neste
ano, foram recentemente revistas para patamares entre 2,5% e 3,3%. A produção
industrial cresceu apenas 3,8% em julho em relação ao ano anterior, bem abaixo
das expectativas de 4,5%", diz o economista Otaviano Canuto, um dos
economistas brasileiros mais requisitados no exterior. Ele foi secretário de
Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda na gestão Palocci (2003-2006).
"Um verão excepcionalmente quente e seco vem estressando o fornecimento de
eletricidade e levando a cortes de produção em certas províncias e em alguns
setores onde o uso de energia é intenso. A crise no setor imobiliário da China
continua prejudicando o desempenho econômico."
Habitação, observa Canuto, é um componente
relevante na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), a taxa de investimento das
economias. "Cresceu apenas 5,7% nos primeiros sete meses do ano, em
comparação com o mesmo período de 2021. No ano passado, esse número foi 10,3%
maior em termos anuais a partir de julho."
As vendas no varejo em julho subiram apenas
2,7% em termos anuais, muito abaixo da expectativa de 5%. "Novos surtos de
Covid-19 e os riscos de confinamento a que a população está exposta por estar
em lugar e hora errados, além de afetarem o comércio varejista, também causaram
impacto negativo sobre o turismo doméstico. A rigor, apenas as exportações
mantiveram um bom ritmo."
Canuto, que depois de atuar como
vice-presidente do Banco Mundial e do BID, além de diretor-executivo no FMI,
passou a integrar os quadros de "think tanks" como o Brookings
Institute, de Washington, e o Policy Center for the New South, do Marrocos, não
acredita que o "novo normal" da economia chinesa, isto é, um
crescimento do PIB em torno de 3% ao ano, seja capaz de provocar na economia
mundial. Ele lembra o governo do presidente Xi Jinping se preocupa menos com a
aceleração da economia neste momento e mais com a saíude das instituições
financeiras e econômicas.
Isso explica a postura conservadora do
Banco Popular da China, o banco central chinês, em oferecer estímulos
financeiros. "Eles cortaram duas das principais taxas de juros na semana
passada - as taxas de juros de recompra ('repo') nas operações de mercado
aberto de um ano e de sete dias- em 10 pontos-básicos! E ontem (terça-feira)
anunciou corte de 15 pontos-básicos na taxa de juros de operações de cinco
anos, baixando-a para 4,30%, enquanto a taxa de um ano foi reduzida em mais 5
pontos-básicos para 3,65%", disse Canuto.
Além dos investimentos em infraestrutura, a China dedicou-se com afinco na década passada à tarefa de tornar-se também uma potência na área tecnológica. Tudo isso deve permitir à nação asiática voltar a crescer a taxas mais expressivas nos próximos anos.
Um comentário:
Em 2019, entrou o governo do. Bolsonaro já elevando inexplicavelmente o dólar. Que não parou mais de subir causando incômodos no Paulo Guedes que via com desespero empregadas domésticas indo para a Disneylândia e pessoas pobres tomando yogurt e pegando avião. Com o dólar cada vez mais caro e
encerrou- se o turismo e os pobres foram pegar os ossos que lhe restaram. Aí descobriram que o ministro tinha conta em dólares em paraísos fiscais e que a inflação garantiria o superávit para
os idiotas verem. Tal qual o pão duro do FHC , que nunca deu aumento para o funcionários públicos durante seu mandato , esse também nunca deu e nem corrigiu o Imposto de Renda como prometeu. Os dois piores governos que esse país já teve.
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