quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Fábio Alves - A volta do risco fiscal

O Estado de S. Paulo

O teto de gastos foi desmantelado pelo atual governo a ponto de perder sua credibilidade

O bom desempenho das contas públicas ao longo deste ano, em razão, em parte, da inflação mais alta e de uma atividade econômica mais forte do que o esperado, contribuiu para deixar os investidores anestesiados em relação ao risco fiscal do Brasil, mas a pressão dos mercados para uma sinalização clara sobre a trajetória da dívida pública e das contas do governo no médio e no longo prazos deve voltar logo após a eleição presidencial.

O que o mercado já dá como certo é que, diante de uma situação social e econômica bastante adversa do País, agravada pela fome e pela inflação elevada, o gasto público adicional e a redução de impostos aprovada neste ano dificilmente poderão ser revertidos em 2023. Por exemplo, tornar permanente o Auxílio Brasil no valor de R$ 600, manter o corte de impostos federais sobre os combustíveis ou ainda corrigir a tabela do Imposto de Renda.

Portanto, o ano que vem também exigirá uma flexibilidade no teto de gastos ou a dispensa em qualquer outra regra fiscal que o substitua para acomodar essa despesa extra, seja quem sair vencedor da eleição presidencial, se Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL), os candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto.

Por enquanto, não há nenhuma clareza sobre qual o novo regime fiscal que irá entrar no lugar do teto de gastos, o qual foi sendo desrespeitado e desmantelado durante o governo Bolsonaro a ponto de ter perdido quase completamente a sua credibilidade.

Se Lula for eleito presidente, a reação dos investidores será imediata assim que ele anunciar o nome que irá comandar o Ministério da Economia, pois isso daria uma sinalização ao mercado sobre quão comprometido o governo dele estaria em trazer as contas públicas de volta aos trilhos, e não no caminho da irresponsabilidade fiscal como ficou marcada a gestão de Dilma Rousseff.

Nomes como Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda de Dilma, seriam mal recebidos por agravar a percepção de risco fiscal, enquanto nomes considerados mais “técnicos”, como Bernard Appy, que elaborou uma das propostas de reforma tributária em tramitação no Congresso, agradariam aos investidores.

No caso de Bolsonaro, surgiu recentemente uma proposta feita por técnicos do Tesouro Nacional de trocar o teto de gastos por uma meta da dívida pública como a nova âncora fiscal do País. A ideia foi até considerada boa por muitos analistas, mas não está claro que tenha a chancela do ministro Paulo Guedes. Assim, ainda é um mistério o que Bolsonaro quer para as contas fiscais para além de 2023.

 

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