O Estado de S. Paulo
Em uma campanha curta, os políticos têm pressa, a mesma urgência de quem passa fome no País
Campanha eleitoral é tempo de candidato
comer buchada de bode e abraçar crianças em comunidades pobres. Em 2022, ela se
tornou também o momento em que general vira tuiteiro. A rede social é o novo
Clube Militar, o local em que oficiais fazem política, como descobrira o
ex-comandante Eduardo Villas Bôas.
Agora foi a vez de Walter Braga Netto. Desde segunda-feira, o lacônico oficial se converteu em um loquaz tuiteiro. O candidato a vice dos sonhos de Jair Bolsonaro, por não dar palpites nem ameaçá-lo, apresenta-se como um mineiro “alinhado aos valores conservadores e ao liberalismo econômico do presidente”. Na rede social, todos têm pressa – a concorrência é enorme para capturar o eleitor. O novo tuiteiro do Planalto já conta com 87 mil seguidores e 13 publicações. “Foi com muita honra e orgulho que recebi a missão de ser candidato a vice-presidente, a mais desafiadora e importante dos meus 65 anos de vida.”
Até então, o ex-ministro da Defesa era um
dos generais de passeata do bolsonarismo, esse novo tipo da política nacional.
Nos anos 1960, Nelson Rodrigues capturou a imagem do “padre de passeata”, que
só olhava para os céus para saber se devia sair com guarda-chuva. O general de
passeata é parecido: ele só olha para o alto para saber quando o “tempo vai
fechar”.
Enquanto alimentava pastores mais preocupados
em salvar o governo do que almas, a administração Bolsonaro criou esse novo
personagem. São figuras como Eduardo Pazuello, o especialista em logística
cujas desventuras Émile Zola tornou um clássico ao retratar, em La Débâcle, o
exército francês de 1870.
Essa turma gosta de datas comemorativas,
como o 31 de março. E crê que o 7 de Setembro em Copacabana reviverá, cem anos
depois, a marcha dos 18 do Forte. Ela acredita que a salva de tiros, programada
pelo Exército durante o comício de Bolsonaro, esconderá os maltrapilhos que
emboscam clientes nas padarias do bairro, parte dos 33 milhões que vivem a fome
da pobreza extrema no Brasil. Quase todos os candidatos à Presidência já
anunciaram planos para acabar com essa chaga. Cada um tem um caminho. Bolsonaro
também tem o seu: negar a existência dos esfomeados.
Seu vice tuitou ontem sua visita a Sinop
(MT) e fez promessas ao agronegócio. “O Brasil contribui com a
#segurançaalimentar do mundo”, escreveu. Nenhuma palavra sobre a fome no País.
Em uma campanha de 45 dias, um político tem pressa para se fazer conhecer. Os
famélicos, como dizia o sociólogo Hebert de Souza, o Betinho, igualmente têm
pressa. Quando uma barriga ronca, nada mais importa, além da própria fome. Os
que se alimentam do poder também sabem disso.
Um comentário:
O general da vergonha alheia.
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