sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro em modo 2018

O Globo

Depois de quatro anos no poder, presidente tenta se vender como candidato antissistema

O medo da derrota fez Jair Bolsonaro apelar a um velho figurino: o do candidato antissistema que venceu a eleição de 2018.

Depois de quatro anos no poder, o capitão foi aconselhado a apostar numa campanha mais convencional. Filiou-se ao maior partido do Centrão, planejou gastos milionários, profissionalizou a propaganda na TV e nas redes. Na nova versão, o candidato trocaria a fantasia de outsider pelo terno de presidente. Faltou conciliar o desejo dos marqueteiros com o espírito do Cavalão.

Pressionado, Bolsonaro apostou tudo na tentativa de voltar ao passado. Ontem ele resgatou até a estética das lives de 2018. Vestiu uma camisa da seleção e soltou o verbo em discurso para internet. O cenário foi decorado com uma bandeira torta na parede e uma mesa cuidadosamente desarrumada. Só faltaram os chinelos e o pão com leite condensado.

O falatório também pareceu ressurgir de uma máquina do tempo. O capitão repetiu mentiras sobre a urna eletrônica e tentou amedrontar eleitores religiosos com temas como comunismo e ideologia de gênero.

Para completar, chamou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral de “patife”, “moleque” e “cara de pau”. “Deixa acabar as eleições”, desafiou, dirigindo-se ao ministro Alexandre de Moraes. Não foi sua primeira insinuação golpista na semana do primeiro turno.

Na quarta-feira, o PL divulgou um relatório em papel timbrado com ataques ao sistema eleitoral. Sem apresentar provas, o partido alegou a existência de “vulnerabilidades relevantes” que poderiam causar “grave impacto nos resultados das eleições”.

Foi uma jogada ensaiada e desleal. Horas antes da divulgação da nota, o chefão da sigla, Valdemar Costa Neto, visitou a sede do TSE e admitiu que a tal “sala secreta” não existe. O relatório foi mais um truque para tumultuar a votação de domingo.

Há poucas semanas, um aliado celebrava a suposta transformação do presidente. Depois de muita resistência, ele teria aceitado encarnar o “personagem de 2022”, um estadista inventado por marqueteiros. Como todo mau ator, o capitão não conseguiu sustentar o novo papel. O candidato que vai às urnas é o velho deputado do baixo clero.

3 comentários:

Anônimo disse...

Jair Bolsonaro parece ressurgir duma máquina do tempo: um daqueles trogloditas monossilábicos da era do fogo, demonstrando toda sua sensibilidade com as companheiras do seu bando: "mim, manda; você, obedece e cala boca"! Hoje, bando e quadrilha são sinônimos!

Anônimo disse...

O velho deputado do baixo clero, que enriqueceu fazendo rachadinhas e as ensinou aos filhos. A maior lição que ele passou aos zerinhos...

ADEMAR AMANCIO disse...

Só Jesus na causa.