Folha de S. Paulo
Notícias falsas empobrecem o debate e
tolhem a liberdade de expressão
O nível de campanha eleitoral sempre foi
baixo. Mas em 2018 Bolsonaro varreu o panorama eleitoral numa campanha que
bateu todos os recordes de mentiras, calúnias e fake news.
Agora, em 2022, está fazendo de novo. A diferença é que a oposição hoje sabe um
pouco melhor como reagir. E alguns petistas estão, inclusive, fazendo igual.
O principal exemplo é o deputado André Janones. Veicula e promove fake news contra Bolsonaro de todas as maneiras possíveis. Vídeos sensacionalistas, acusações infundadas, tom apocalíptico. Está agora criando um exército de voluntários para aumentar ainda mais o alcance desse material. Até ontem a ordem do dia era acusar Bolsonaro de pedofilia. O TSE proibiu essa, mas tenho certeza que amanhã aparecerá uma nova.
Bolsonaro disse
que passou as piores 24 horas de sua vida. Há uma justiça cósmica aí, se
pensarmos em todas as pessoas que ele e seus comparsas já difamaram,
infernizaram e até aterrorizaram com suas mentiras. Ao mesmo tempo, é óbvio que
Bolsonaro não é pedófilo e que a tentativa de fazer parecer depende de muita
má-fé.
Não falta quem celebre a estratégia, que
parece estar rendendo frutos. O "gabinete do ódio" bolsonarista está
desnorteado. Saiu do modo ataque para o modo defesa. Temo, no entanto, que para
o Brasil essa normalização das fake news e das milícias digitais seja nociva.
Fake news, calúnias e todo o resto são
muito danosos à ordem social. Primeiro porque nos afastam da verdade. Segundo,
porque empobrecem o debate. Canibalismo, pedofilia, tráfico sexual e tortura de
crianças, satanismo, maçonaria, orientação sexual, falso atentado. Essa foi a
agenda das últimas semanas enquanto o Brasil se prepara para definir seu
futuro. Terceiro, porque intimidam os participantes e tolhem a liberdade de
expressão.
E em quarto lugar porque promovem o
fanatismo e a polarização que estão destruindo a sociedade. Lembrando que
polarização não é a existência de ideias divergentes, mas o ódio e a
desconfiança que fazem cada lado ver no outro, não um adversário legítimo na democracia,
mas um inimigo a ser extirpado. O tipo de política que ela elege, dado a
grandes mostras simbólicas de radicalismo, mas incapaz de entregar resultados,
também contribui para a disfuncionalidade da política.
Uma outra abordagem tem sido adotada pelo
Felipe Neto, maior youtuber do Brasil e apoiador aguerrido de Lula nesta
eleição: ele pega as fake news bolsonaristas mais populares do momento e
publica refutações em vídeo, sempre de forma incisiva e bombástica, para gerar
engajamento. Aí há o uso eficaz da linguagem das redes sem a mentira e a
desinformação. Tanto ele quanto Janones são atores centrais das discussões nas
redes, tal como medido pelo analista de dados Pedro Barcielo, em análise em sua
conta de Twitter.
É um dilema eterno da guerra e também da
política - que, como dizia Foucault invertendo a máxima de Clausewitz, é guerra
por outros meios. Se estamos cercados de adversários maus, ser bom pode
significar o suicídio. Quando a Alemanha começou a usar armas químicas na
Primeira Guerra, a Inglaterra teve que fazer igual. Ao mesmo tempo, se todos
optarem por usar a bomba, não sobrará mundo depois da guerra.
Bem sei que, neste momento, a discussão
ética é inócua. Os dois lados estão convencidos de que precisam dessas
estratégias para vencer e nada vai impedi-los. Aqueles de nós que não
compactuam com essas práticas, no entanto, já têm que ir pensando em como
intervir no debate público para que, no futuro, essas práticas não prosperem.
Depois das eleições, é preciso que ainda haja um Brasil.
3 comentários:
Minha campanha é pela paz,Jesus nos ama a todos.
Gostei do ''justiça cósmica'',eu sou espírita,não sabia que o colunista,sendo ateu,também acreditasse na lei de ação e reação.
Mas não acho que a esquerda deva entrar na onda de fake news,até agora só houve o vídeo do ator pornô sobre o deputado mineiro,sobre Bolsonaro,é sempre ele falando suas barbaridades.
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