O Globo
A Comissão de Promoção de Igualdade Racial
do TSE elegeu uma série de expressões pretensamente racistas
Na série de filmes “Sexta-feira 13”, quando
se pensava que o vilão já era — depois de ter sido decapitado, esquartejado,
triturado —, ei-lo que ressurgia no episódio seguinte, todo pimpão, como se
nada tivesse acontecido. Mais resilientes, só as listas de “palavras e
expressões racistas” que você TEM de banir de seu vocabulário, sob pena de ser
um monstro escravagista.
Uma a uma, essas cartilhas são refutadas por linguistas, etimólogos, historiadores. Mas, qual Jasons, elas renascem, incólumes e implacáveis, cada vez que uma instituição pública resolve extrapolar sua função e incorporar um Torquemada ou um puritano de Salem. Que, na falta de hereges e bruxas, sai caçando — e cassando — palavras.
O mavórcio da vez é o Tribunal Superior
Eleitoral, que até outro dia dizia combater as fake news. A Comissão de
Promoção de Igualdade Racial do TSE elegeu
uma série de expressões pretensamente racistas indignas de figurar na nossa
linguagem. A ideia parece ser repetir uma mentira à exaustão, até que ela
comece a soar como verdade.
Para o egrégio Tribunal, qualquer
associação de claro/branco/positivo e de escuro/preto/negativo é sintoma
de racismo.
Pouco importando que nada tenha a ver com cor de pele.
“Esclarecer” foi condenada porque
“embute-se nela o racismo a partir do instante em que transmite a ideia de que
a compreensão de algo só pode ocorrer sob as bênçãos da claridade, da
branquitude, mantendo no campo da dúvida e do desconhecimento as coisas
negras”. O olho humano enxergar melhor no claro é tão irrelevante quanto a
conexão entre claro/lúcido/límpido e escuro/sombrio/desconhecido existir pelo
menos desde o Gênesis.
“Denegrir” (manchar, macular) seria racista
porque “faz surgir a ideia de que tornar algo negro é negativo”. Será racismo
ter medo do escuro ou chamar de “tarja preta” o medicamento que oferece risco?
Nem os veteranos “criado-mudo” e “fazer nas
coxas” escaparam. Já se sabe que não há racismo algum aí, mas...
“independentemente da origem da palavra, o simples fato de seu uso ser
relacionado com a escravização de pessoas negras é justificativa suficiente para
o abandono de seu uso vocabular”. Assim sendo, deveriam repudiar também
pelourinho, senzala, quilombo, banzo, diáspora, alforria. E mandar alterar a
redação do artigo 149 do Código Penal, que trata do trabalho em “condição
análoga à de escravo” (a palavra “escravo” também está proscrita, a ser
substituída por “pessoa escravizada”).
O que acontecerá quando se cansarem dos
falsos racismos e enveredarem por outras searas, ampliando a jurisdição da
Polícia da Moralidade Verbal? Talvez o STF lance um guia antimisógino,
proibindo expressões como “no fio do bigode” e “pôr as barbas de molho”. Ou o
BNDES rechace o capacitismo de “fazer vista grossa”, “andar às cegas”, “mandar
ver”, “dar uma de João sem braço” e “mentira tem perna curta”.
Em seu voto contra o orçamento secreto, a
ministra Rosa Weber criticou as “práticas obscuras”. E o próprio TSE, no
documento que trata da diplomação de Lula e Alckmin, menciona “esclarecimentos
adicionais”.
“Esclarecimentos”? “Obscuras”? Que racismo
estrutural é esse, Excelências?
2 comentários:
Perfeito
O politicamente-correto tem seu valor,o problema é o exagero.
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