Folha de S. Paulo
Sua longevidade no front é um símbolo
poderoso de que é possível atuar na profissão com dignidade
Poucos jornalistas brasileiros podem ser
alçados à categoria de lenda. Janio de
Freitas está nesse panteão com honra e glória. Muitos de nós
decidiram ser jornalistas por causa dele, inspirados por ele. Querendo ser como
ele. Muitos de nós ficaram (e ficam) pelo caminho: porque as dificuldades da
profissão são imensas, porque os salários são baixos e as pressões, às vezes,
insuportáveis.
A longevidade de Janio no front é um
símbolo poderoso de que é possível atuar na profissão com dignidade e altivez.
Ele atravessou o século 20 e já adentra a terceira década do 21, tendo inscrito
seu nome na história do jornalismo brasileiro ainda muito jovem.
Como contou Ruy Castro, por ocasião dos 90 anos do mestre, em junho, Janio foi a mente ousada e criativa no comando da reforma gráfica do Jornal do Brasil, que desencadeou uma revolução na imprensa nacional, forçada a tentar imitar a modernidade do concorrente. Janio não tinha chegado aos 30.
Na Folha, em 1987, inaugurou um novo tipo
de reportagem sobre crimes com dinheiro público, ao denunciar o acerto prévio
entre as construtoras que participaram da licitação para as obras da ferrovia
Norte-Sul (governo Sarney). Era um jogo de cartas marcadas. Janio provou a
falcatrua ao publicar os vencedores de forma cifrada na seção de classificados,
dias antes da divulgação do resultado.
Em maio deste ano, o site Poder 360
entrevistou o jornalista para celebrar os 35 anos do caso Norte-Sul. Na
entrevista, Janio disse que há duas maneiras de exercer o jornalismo. Uma é o
"carreirismo desbragado, a bajulação, a adesão política e a prestação de
serviços contra a ética jornalística". A outra é "trabalhar
muito". "Assim, essa carreira vale a pena", completou. Obrigada,
mestre, pela coerência e coragem.
Silenciar a voz de Janio de Freitas, neste
momento da vida brasileira, apequena a Folha. Perdemos, nós, seus fiéis
leitores, perdem a Folha, o jornalismo e a democracia no Brasil.
Um comentário:
Puras verdades verdadeiras, Cristina, boa discípula do Mestre Jânio!
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