Folha de S. Paulo
Blindagem excessiva impede
responsabilização de presidentes
A essa altura, ou Bolsonaro já deixou o país
ou está na iminência de fazê-lo. Ele não entregará a faixa
presidencial a Lula. É uma questão interessante determinar se se trata de um
último ataque simbólico à democracia, um problema de berço (má educação), uma
fuga ou uma combinação dos três. Interessa-me hoje a hipótese da fuga.
Uma coisa mal resolvida pelas democracias é
a extensão da blindagem judicial concedida a chefes de governo ou de Estado.
Por mais que consideremos a igualdade de todos diante da lei como princípio fundamental, algum nível de proteção precisa haver. De outra forma, seria fácil inviabilizar um governo desferindo contra o presidente uma campanha de assédio judicial (fazê-lo responder a dezenas ou até centenas de processos semelhantes em diferentes comarcas).
No momento, porém, vivemos o problema
oposto. A blindagem que a Constituição dá ao presidente me parece exagerada. O
titular do Executivo goza de imunidade total contra "atos estranhos ao
exercício de suas funções" (art. 86). Na interpretação que vem sendo dada
a esse dispositivo, isso significa que, se o presidente assassinasse um
comborço diante dos olhos de todos (um ato estranho às funções), ele só
responderia pelo delito após o término de seu mandato.
Caso os crimes imputados não sejam
"estranhos" —corrupção ou prevaricação, por exemplo—, o mandatário
pode responder por eles tanto diante do Senado (impeachment) como do STF
(infrações penais comuns), mas apenas se a Câmara dos Deputados, pelo voto de
2/3 de seus membros, autorizar a abertura dos processos. O que já seria difícil
fica quase impossível se o presidente mantiver relações amistosas com o
presidente da Câmara e o procurador-geral da República, peças importantes para
fazer as coisas andarem.
Como o caso Bolsonaro bem o ilustra, precisamos
rever essas regras. A presidência não pode converter-se numa licença
para delinquir.
3 comentários:
ComBorçonaro 😁
2023 está chegando... Para preocupação do GENOCIDA, que começará a se entender finalmente com a Justiça! Aras e Lira o protegeram integralmente até agora, mas o mar de crimes do canalha está chegando ao fim. E ele não sairá impune!
Bolsonaro fugiu e deu uma banana pro País.
Postar um comentário