Folha de S. Paulo
Políticas a que Lula vai dar de fato
prioridade, quem vai tocar esses barcos e se são capazes de fazê-lo são as
próximas definições
Luiz Inácio Lula da
Silva deu nove ministérios, ou praticamente isso, para MDB, PSD e
União Brasil. Juntos, esses
partidos terão 143 deputados federais a partir do ano que vem.
Como era de esperar, o núcleo da base
bolsonarista, PL, PP e Republicanos, não levou nada —até agora. Juntos, têm 187
deputados. Em uma conta simples, a coalizão de apoio a Lula 3 tem 283
deputados.
Não se adquire apoio de partido com porteira fechada, em bloco, como se sabe. Haverá recalcitrantes no centrão luliano. Haverá quem vote com o governo mesmo em partidos como o PL, casamento da extrema direita com a fisiologia mais crua, assim como no PP e no Republicanos. A negociação, de resto, não acabou.
Há cargos para distribuir, alguns até para
agraciar uma liderança mais graúda dos partidos bolsonaristas. Haverá acertos
para a divisão de postos de poder no Congresso.
Há vagas em diretorias, superintendências e outros feudos menores. Há mais
trabalho a fazer para obter apoios, por meio de partilha de poder e dinheiros.
Além do trio bolsonarista, há um bloquinho
de oposição, partidos miúdos à direita, que contam votos que podem faltar em
ocasião importante. É o caso da federação PSDB-Cidadania, do Novo e dos
ajuntamentos Podemos-PSC e Patriota-PTB. Somam 43 deputados.
No entanto, nem esse quadro partidário está
estabilizado. A formação do governo, a recomposição de poder no Congresso ou as
eleições para os comandos de Câmara e Senado, tudo
isso pode resultar em apoios novos, defecções e, quem sabe, em até alguma nova
fusão partidária.
Logo, a formação da base de apoio do
governo no Congresso continua. Obviamente, essa geleia sempre se move, a
depender de dinheiros, dos assuntos cruciais em discussão e do prestígio do
presidente da República. Mas o primeiro movimento dessa ópera não acabou.
O ministério pode vir a ajudar. Lula nomeou
muito político experiente. Governadores, além do ex-prefeito de São
Paulo, Fernando
Haddad, são um quarto da equipe. Há ex-ministros e parlamentares com algum
calejamento. Note-se, de passagem, que é um gabinete com peso grande de Norte-Nordeste.
Em termos político-partidários, é um time
razoável para começar o campeonato da negociação. Em termos de coalizão social,
de uma "frente ampla" de fato, bem menos.
De "frente ampla", além dos
ministros da barganha política com o Congresso", não há muito mais do
que Geraldo
Alckmin, que já estava na conta, e Simone Tebet.
A ver se o "centro" da sociedade (na prática, as elites civilizadas)
vai se sentir representado de algum modo. Parece que não, até por causa do
sururu econômico da transição.
Além dos petistas (é um governo liderado
pelo PT, certo?), de companheiros de viagem históricos e de partidos vagamente
de esquerda (PDT e PSB, por exemplo), Lula colocou no ministério gente
representativa de movimentos sociais (é um governo de esquerda, certo?).
Agora, é preciso ver como vai se montar a
máquina, os secretários que realmente operam, técnica e politicamente, os
ministérios e agências relevantes de governo. É uma escalação em geral menos
rumorosa ou simbólica; é então que se definem grupos que podem planejar
políticas ou torna-las operacionais. É a partir daí que se pode vislumbrar um
pouco do funcionamento real do governo.
São as próximas definições: quais são as
políticas a que Lula vai dar de fato prioridade, quem vai tocar esses barcos e
se são capazes de fazê-lo. Na política, falta ver como o governo ainda pretende
neutralizar o perigo potencial do blocão bolsonarista. Além de grande no
Congresso, esse grupo de partidos tem como base um eleitorado extenso de
direita ou extrema direita ideológicos.
2 comentários:
A imprensa tem um comportamento previsível. Começou questionando o LULA, q ganhou a eleição (VÊ Q MERECIDO).
Depois, questionada o ministério escolhido pelo LULA (VÊ Q É REPRESENTATIVO DA FRENTE AMPLA PROMETIDA).
Depois questiona a capacidade de realização da equipe (CONCLUIRÁ Q É, no mínimo, MELHOR DO Q A DO GENOCIDA - isso é fácil).
No futuro, questionará as realizações, promessas X feitos (FICA AGRADAVELMENTE SURPRESO).
Mais a frente (DIRÁ Q FOI SORTE, Q LULA RECEBEU TUDO PRONTO DO FUJÃO).
A IMPRENSA NAO ACEITA/RÁ LULA. O q vemos é apenas recuo pra ataques posteriores.
Cobrem-me, se não for assim.
Quem são as ''elites civilizadas''?
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