sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Eliane Cantanhêde - ‘Companheiros’ e ‘companheiras’

O Estado de S. Paulo

Lula quis combinar competência, diversidade e equilíbrio político. Vai funcionar?

Luiz Inácio Lula da Silva anunciou cada ministro como “o companheiro” ou “a companheira”, fosse ele ou ela do PT, “que não é fácil”, do PDT do seu feroz adversário Ciro Gomes, do União Brasil do seu algoz Sérgio Moro ou de qualquer um dos nove partidos que vão se alojar – e eventualmente, ou certamente, se digladiar – na Esplanada dos Ministérios. É a “frente ampla”.

O que mais chamou a atenção no anúncio do último pacote de ministros não foi o excesso de 37 pastas, que já se sabia, nem os escolhidos, já esperados, mas, sim, o atraso, a insistência em valorizar as escolhas femininas e a forma de Lula de se referir à sua equipe a três dias de assumir seu terceiro mandato, depois de tudo.

Talvez a única surpresa de última hora tenha sido o “companheiro” Waldez Góes para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, pasta política, promissora e disputada. Governador do pequeno Amapá, Góes é do PDT que fez oposição a Lula, está a caminho do União Brasil, um saco de gatos, e é adversário do senador Randolfe Rodrigues, que será o líder do governo no Congresso. E Lula, provavelmente, não conhecia nem sabia quem era.

Então, por que logo ele? Porque Lula precisava “dar” três ministérios para o União Brasil e estava difícil pinçar alguém da sigla que já não tivesse metido o malho no PT, na esquerda, no próprio Lula. Afinal, o União Brasil une (artificialmente, aliás) o ex-DEM, que sempre foi oposição a eles, e o ex-PSL, nada mais, nada menos, partido de Jair Bolsonaro em 2018.

Entrou em ação o senador Davi Alcolumbre, ex-presidente e líder inconteste do Senado e craque do orçamento secreto. Somou-se o pragmatismo de Lula e o de Alcolumbre, que se sentou ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante o anúncio. Assim, Góes sai do PDT para o União Brasil, tentando disfarçar as velhas guerras e a presença de Moro no partido. E também levam três pastas, cada um, o MDB e o PSD de Gilberto Kassab – que, aliás, garante vagas no governo Lula e a articulação política de Tarcísio de Freitas em São Paulo. Água e azeite!

No mais, são 11 mulheres no total de 37 ministros: Marina Silva, Simone Tebet, Nísia Trindade, Ana Moser, Margareth Menezes, Sonia Guajajara, Esther Dweck, Luciana Santos, Anielle Franco, Daniela do Waguinho e Cida Gonçalves. E as presidências do BB e da CEF também irão para mulheres.

Entre velhos sobrenomes, como Calheiros e Barbalho, e desconhecidos, como Juscelino Filho e André de Paula, Lula tentou combinar competência, diversidade e equilíbrio de forças políticas anti-Centrão. Acertou? O tempo dirá.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Os partidos de Moro e o que já foi de Bolsonaro estão no ministério do Lula,se isso não for frente-ampla é o quê? Não,a jornalista não contestou a frente,mas há muitos questionando.