segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Pablo Ortellado - Onde está a mão dura do Estado para defender a democracia?

O Globo

São absolutamente chocantes as imagens de golpistas invadindo o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Se as forças policiais do GDF, da Força Nacional ou o Exército não agirem com grande rigor, esses grupos minoritários de golpistas vão empurrar o Brasil para a beira do abismo.

Durante semanas, o Ministério da Justiça, o Ministério da Defesa e o governo do Distrito Federal avaliaram que as mobilizações golpistas desapareceriam por exaustão. A avaliação estava equivocada e o preço deste equívoco vai sair caro para a democracia brasileira.

Havia muitos indícios de que as mobilizações golpistas eram resilientes. Os acampamentos em frente aos quartéis persistiram por mais de dez semanas. E eles prosperaram por tanto tempo porque as polícias militares dos Estados e o Exército não agiram para desfazer os acampamentos. Prevaleceu o entendimento de que o tempo cuidaria de dissuadir os golpistas. Um erro!

As mobilizações de hoje foram convocadas pelo Telegram e noticiadas pela imprensa —elas falavam de ocupar as sedes dos poderes, de provocar uma intervenção militar e dar início a uma guerra civil. Por que o Estado brasileiro não se preparou para o pior cenário? Por que chegamos a esse ponto sem que o Exército e as forças policiais estivessem minimamente preparados?

Por que, depois do que vimos nos Estados Unidos, não nos organizamos para um cenário parecido? Tudo está acontecendo exatamente como aconteceu na invasão do Capitólio há dois anos. Uma manifestação em massa se dirigiu à sede do poder público e as forças policiais só começaram a se mobilizar na dimensão necessária depois que o leite derramou. Errou gravemente o governador Ibaneis Rocha por não ter preparado um plano de contingência.

Esperamos que agora que o pior aconteceu, os poderes instituídos ajam com muito rigor. Menos importante do que a decisão sobre se a repressão vai ser feita pela polícia do Distrito Federal, pela Força Nacional ou pelo próprio Exército, por meio de uma GLO, é o rigor desta ação repressiva que importa.

Esses arruaceiros precisam ser detidos, os atos de vandalismo identificados e os convocantes nas mídias sociais e nos aplicativos de mensagem precisam ser imediatamente presos. Se errarmos na dureza da resposta repressiva é a própria democracia que estará em risco --hoje estamos vendo a invasão dos edifícios dos poderes, mas amanhã poderemos ver bloqueios das estradas e das refinarias (como já anteciparam no Telegram) e uma rebelião das forças militares. Chega de tolerância com o golpismo.

 

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