O Estado de S. Paulo
A tentativa de golpe que resultou nos atos terroristas de ontem inaugura a fase do pós-bolsonarismo. Com isso, abre-se um novo e perigoso capítulo da extrema direita no Brasil, em que grupos extremistas já não precisam mais de Jair Bolsonaro para se mobilizarem contra a democracia. Esses atos representam também a união de extremistas do Brasil e dos EUA em tentativas de golpes e atentados contra as instituições democráticas. Trata-se da consolidação da transnacionalização do terrorismo da extrema direita.
Embora seja inevitável a comparação com a
invasão de Capitólio, a diferença entre o 6 e o 8 de janeiro é que, no primeiro
caso, a multidão de golpistas foi incitada diretamente por Donald Trump, que
chegou a discursar pouco antes da invasão. No caso brasileiro, Bolsonaro tem
atuado mais como a cola simbólica que possibilita a liga entre diferentes
grupos extremistas que buscavam emular a invasão do Capitólio. Entretanto, o
silêncio de Bolsonaro é tão perigoso quanto as palavras de Trump.
Um dos riscos da fase do pós-bolsonarismo é o de subestimar a capacidade de articulação desses grupos. Ainda que mobilizando um número pequeno de pessoas, é evidente que eles representam sérios riscos. É urgente a montagem de um sistema de vigilância democrática para prevenir e punir atos e crimes contra a democracia.
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