segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Isabella Kalil - O perigoso passo da extrema direita

O Estado de S. Paulo

A tentativa de golpe que resultou nos atos terroristas de ontem inaugura a fase do pós-bolsonarismo. Com isso, abre-se um novo e perigoso capítulo da extrema direita no Brasil, em que grupos extremistas já não precisam mais de Jair Bolsonaro para se mobilizarem contra a democracia. Esses atos representam também a união de extremistas do Brasil e dos EUA em tentativas de golpes e atentados contra as instituições democráticas. Trata-se da consolidação da transnacionalização do terrorismo da extrema direita.

Embora seja inevitável a comparação com a invasão de Capitólio, a diferença entre o 6 e o 8 de janeiro é que, no primeiro caso, a multidão de golpistas foi incitada diretamente por Donald Trump, que chegou a discursar pouco antes da invasão. No caso brasileiro, Bolsonaro tem atuado mais como a cola simbólica que possibilita a liga entre diferentes grupos extremistas que buscavam emular a invasão do Capitólio. Entretanto, o silêncio de Bolsonaro é tão perigoso quanto as palavras de Trump.

Um dos riscos da fase do pós-bolsonarismo é o de subestimar a capacidade de articulação desses grupos. Ainda que mobilizando um número pequeno de pessoas, é evidente que eles representam sérios riscos. É urgente a montagem de um sistema de vigilância democrática para prevenir e punir atos e crimes contra a democracia.