O Globo
Revista Brasileira, da ABL, discute a
democracia. Sem democracia, não há cultura
No momento em que o país ainda vive as
consequências da tentativa frustrada de golpe no dia 8 de janeiro, a Academia
Brasileira de Letras (ABL) lança a nova edição da Revista Brasileira, que tem
como tema central a democracia. Vivemos um período tormentoso, em que os
problemas que afligem as principais democracias do Ocidente nos atingem, como o
crescimento do extremismo de direita, o movimento migratório provocado por
questões políticas, mas, especialmente, por problemas econômicos, de pura
sobrevivência.
O espírito de solidariedade que a democracia estimula encontra barreiras nessas dificuldades dos tempos modernos. Enquanto na Europa os países vivem suas contradições no enfrentamento dos problemas causados pelas ondas migratórias devidas a guerras e crises econômicas, o Brasil vive situações inéditas, como a busca de refúgio por venezuelanos e cidadãos de outros países vizinhos.
O número de refugiados no Brasil já passou
de 50 mil. Segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) e do
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), é possível
constatar que, no início de 2023, existiam mais de 65 mil pessoas reconhecidas
como refugiadas no país. E, de acordo com o Ministério da Justiça e Segurança
Pública, o Brasil recebeu 49.507 solicitações de refugiados no ano passado.
Diante desse cenário alarmante, a Fundação
Dom Cabral — uma das principais escolas de negócios do país, com reconhecimento
internacional — criou um projeto com o objetivo de promover a capacitação de
gestores de organizações sociais que realizam trabalho direto com refugiados,
além de fomentar o impacto indireto por meio das organizações sociais que
atendem jovens em situação de vulnerabilidade e empreendedores populares
refugiados no Brasil.
O objetivo é a capacitação dessas
organizações para a governança e a gestão necessárias a fim de obter melhores
resultados e buscar a sua sustentabilidade. Ano a ano, essa realidade do
refúgio cresce no Brasil e no mundo. Diante disso, o Basis — instrumento de
capacitação de gestores de iniciativas sociais — e organizações de proteção a
refugiados atenderão 12 organizações sociais e seus cerca de 30 gestores, com a
duração total de oito meses de curso. O mapeamento das instituições aconteceu
por meio da lista de organizações parceiras do Acnur.
Esse é um exemplo de como o espírito
democrático favorece uma visão solidária diante de crises. Caetano Veloso, que
fala sobre a democracia na Revista Brasileira e esteve presente ao lançamento,
ontem, na Livraria Travessa do Leblon, Zona Sul do Rio, cunhou uma expressão
que manifesta bem esse espírito de solidariedade democrática:
— O Brasil vai dar certo porque eu quero.
Longe de espelhar uma atitude egocêntrica,
a expressão é uma convocação a que todos os brasileiros se unam nessa tarefa.
A acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira,
editora da Revista Brasileira, sublinhou a importância da democracia para a
cultura nacional, razão por que a ABL se empenha em apoiá-la. Como mostram a
Nicarágua e os recentes anos de desmonte do sistema governamental de estímulo à
cultura, sem democracia não há cultura.
Um comentário:
O Brasil vai dar certo porque eu quero.
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