O Globo
Há seguidas boas notícias na área
econômica, mas há sombras. Brasil vai crescer mais no ano do que se imaginava,
mas agora é uma hora de baixo crescimento
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
informou em relatório que o Brasil tem recebido fluxos “consideráveis” de
recursos estrangeiros e que a tendência é que o investimento direto vá ganhando
mais peso no total de capital externo que entra no Brasil. Este é considerado o
melhor tipo de investimento, já que é direcionado à produção e é de longo
prazo.
O Ministério da Fazenda revisou ontem para 2,5% a previsão de crescimento do ano. Contudo, no mesmo dia, o monitor do PIB da FGV apontou que a atividade tombou 3% em maio, e o IBC-Br de maio, divulgado segunda-feira, registrou queda de 2%, um número pior do que o previsto pelos bancos. Afinal, a conjuntura econômica é boa ou ruim?
Há seguidas boas notícias na área
econômica, mas há sombras. Ao mesmo tempo em que a mediana da previsão de
crescimento do ano subiu de 0,8% para perto de 2,24% desde janeiro, há a
certeza de que, no imediato, a tendência é de desaceleração. Vai crescer mais
no ano do que se imaginava, mas agora é uma hora de baixo crescimento.
Em parte tem o efeito sazonal da maior
safra de grãos que o país já produziu. Ele já ficou para trás. Em parte pelos
juros elevados por muito tempo, que cobram seu preço. O país deve crescer mais
de 2%, mas, em grande medida, pelo que aconteceu no primeiro trimestre. Agora a
economia está às voltas com vários problemas decorrentes da política monetária
apertada.
O que os últimos indicadores como o IBC-Br
do Banco Central, o Monitor do PIB da FGV e os dados setoriais fazem é reforçar
que a melhor decisão do Copom é cortar os juros. E hoje o que se discute é
quanto. Muito provavelmente os juros serão reduzidos em 0,5 ponto percentual,
levando a Selic para 13,25% no começo de agosto.
Para justificar a decisão do BC há números
fracos de atividade e os dados positivos de queda da inflação, que está em
3,1%, nos últimos 12 meses. Há dados surpreendentes como o que está acontecendo
com o IGP-M, que ontem chegou a uma queda de 7,72%, nos últimos 12 meses. Os
donos dos imóveis e as imobiliárias administradoras não falam, mas deviam
falar, em redução dos aluguéis. Afinal, se o número fosse de alta eles estariam
elevando os preços.
A balança
comercial que será recorde, como O GLOBO ressaltou ontem, foi também puxada
pelo agronegócio. O saldo no primeiro semestre foi de US$ 45 bilhões. No ano
deve chegar a US$ 65 bilhões. Ou seja, a maior parte já aconteceu. Mas o Brasil
vive uma conjuntura muito boa no comércio exterior.
O superávit subiu por aumento de volume
exportado, os preços das commodities agrícolas caíram, o dólar está em nível
mais baixo e a previsão do PIB subiu. Houve um tempo em que o superávit só
aumentava se houvesse recessão, desvalorização cambial, ou ambos.
Independentemente da perda de fôlego da
atividade no curto prazo, um exame detalhado dos números revela que a
conjuntura é singular e muito favorável ao Brasil, e que há motivos para
otimismo. Mas, ao mesmo tempo, há sombras no horizonte.
No curto prazo, o novo ataque russo ao escoamento
da produção agrícola da Ucrânia, através da suspensão do acordo e do bombardeio
contra dois portos ucranianos, pode afetar preços internacionais de milho e
trigo e, portanto, de ração animal e de pães e massas em geral. Por enquanto
não é forte, mas uma das boas notícias deste ano tem sido a queda da inflação
de alimentos.
O mais preocupante, contudo, é o efeito do
El Niño nos dados de 2024. O Bradesco divulgou ontem um relatório sobre o
assunto em que disse que “a intensidade do atual fenômeno é incerta”, mas que a
“rápida aceleração da temperatura das águas do Pacífico traz um risco de
ocorrência de um super El Niño”.
A última vez que o fenômeno veio com muita
força, em 2015-2016, houve uma quebra de safra global de grãos e de açúcar, o
que pressionou os preços dos alimentos. “O grande risco, em nossa avaliação, é
termos uma quebra de safra agrícola global, elevando os preços no mundo. Nesse
cenário a safra brasileira recuaria 10% e a inflação de alimentos no domicílio
ficaria entre 8% e 9%.”
Isso piora tanto a previsão de crescimento
do PIB, quanto a de inflação no ano que vem. Tudo isso precisa estar no radar:
a evidente melhora na economia, os sinais recentes de fraqueza na atividade e o
imponderável.
3 comentários:
Para este governo Lula3 houve um pessimismo inicial do mercado financeiro, provocado pelo abandono do Teto de Gastos como Âncora Fiscal e não pelo aprimoramento e compromisso definitivo de seu cumprimento de forma responsável. O pessimismo aumentou com a PEC articulada por Lula no início do governo, PEC essa que se baseava na necessidade muito importante e necessária de gasto extra de R$52,5bilhões para completar os R$600,00 da promessa eleitoral de Bolsonaro de auxílio contra a fome, promessa que Lula imediatamente encampou.
Bolsonaro prometeu, mas não deixou previsto em orçamento os R$52,5bilhões complementares para pagar um auxílio contra a fome de R$600,00. Com o que Bolsonaro deixou previsto em orçamento dava para pagar só R$405,00 de auxílio. A PEC articulada por Lula era compreensível e os R$70bilhões de gastos se justificavam plenamente pelos motivos sociais aos quais iriam atender e deveriam mesmo serem viabilizados fora do orçamento, tendo ou não tendo expectativa de aumento de arrecadação de receita de impostos neste ano de 2023 para estes gastos. Além de completar o dinheiro para um auxílio de R$600,00, os R$70bilhões serviriam para o gasto de R$18bilhões para ajuda de R$150,00 por criança carente de até 6 anos de idade e a retomada do programa Farmácia Popular, sendo estas duas últimas promessas eleitorais só de Lula, totalizando um gasto extra de R$70bilhões.
Ocorreu que Lula não articulou uma PEC com apenas os R$70bilhões necessários e fundamentais para essas carências mais emergentes ; o que Lula fez foi se aproveitar da desculpa da fome e articular uma PEC com gastos extras de...R$168bilhões, podendo os gastos chegarem a 200bilhões com essa PEC. Isso em um país cujo orçamento já previa R$230bilhões de déficit!
Lula, por péssimo e irresponsável oportunismo populista, como sempre ele faz desde 2007, turbinou a PEC para fazer suas gastanças eleitorais se aproveitando da desculpa de ser para urgências sociais, esta é a verdade!
São esses golpes de oportunismo descarado e populismo rastaquera que vão gerando falta de confiança e inviabilizando este país!
O pessimismo do mercado com as sinalizações iniciais da notória irresponsabilidade de Lula foi um pouco aliviado pela discussão do Arcabouço Fiscal, que é muito insuficiente. Mas mesmo com apenas o feijão com arroz que promete o Arcabouço ameniza um pouco o risco da irresponsabilidade populista de Lula. A ideia que muitos tinham era que o feijão com arroz do Arcabouço, somado a uma Reforma Tributária decente e a uma gestão do orçamento e busca de alguma arrecadação extra por Fernando Haddad conseguisse montar na economia um cenário de menos pesadelo que o que foi montado pelos governos do PT que se sucederam desde 2007, pesadelos econômicos esses que foram agravados na mesma linha de gastança e de falta de reformas pelo governo Bolsonaro.
Porém, para abalar o menor pessimismo gerado por Haddad e seu Arcabouço Fiscal, o que se está vendo é que o já insuficiente Arcabouço Fiscal até agora sequer teve a votação finalizada e enquanto não é concluído ele pode ser ainda mais piorado. Junta-se a isso uma Reforma Tributária que, embora seja importante ser aprovada como for possível, não está prometendo ser a reforma feita no formato necessário para mudar tão radicalmente a nossa péssima situação fiscal e Lula não se mexe para melhorar o que está vindo.
A economia brasileira já desde o início de 2021 está sendo ancorada apenas pela extrema competência, resistência e compromisso profissional do presidente do Banco Central, Roberto Campos, de preservar a moeda enquanto espera que a política fiscal e orcamentária sejam consertadas, não deixando que se perca o controle sobre a inflação. Mas na área de serviços, por exemplo, a inflação de um ano lambe os 7%, mesmo com a SELIC estando nas alturas, e, nas condições em que estamos, para a inflação disparar está muito fácil.
Enquanto isso, por culpa da falta de boas iniciativas suficientes do governo federal, o pessimismo está voltando a aumentar.
Se a SELIC puder ser diminuída em agosto, o mérito será todo de Roberto Campos e dos demais diretores do COPOM, já que o governo federal, que é quem tem a responsabilidade de fazê-lo, nada fez para que a inflação acalmasse e assim a SELIC pudesse ser baixada com maior velocidade.
O governo federal, este precisa pensar bem seriamente as escaramussas que faz e que passam a ideia de que se puder ele repetirá a infantilidade que teve entre 2007 e 2015 que levou a nossa economia à maior recessão de sua história, com perda acumulada de 8,6 do PIB.
Despertam a desconfiança de quem precisa proteger as parcas economias de brasileiros guardadas nos Bancos e depois ainda se sentem no direito de xingar e jogar o povo contra quem trabalha com responsabilidade.
Pois é.
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