O Globo
Extrema direita mantém tática de
ex-presidente para causar indignação e mobilizar eleitores
Em Porto Alegre, vereadores aprovaram um
projeto que transforma o 8 de janeiro no Dia do Patriota. Em São Paulo,
deputados mudaram o nome de um viaduto para homenagear um coronel da ditadura.
As duas iniciativas foram contestadas no
Supremo Tribunal Federal. Seus objetivos eram os mesmos: causar indignação,
falsificar a História, alvoroçar a extrema direita.
A celebração gaúcha foi proposta pelo
ex-vereador Alexandre Bobadra, que se diz conservador e cristão. Ele ajudou a
difundir as mentiras sobre a urna eletrônica que embalaram a intentona
golpista.
“Ser patriota é sentir amor genuíno pela cultura da nação”, justificou, ao propor a data comemorativa. Faltou combinar com os correligionários que vandalizaram obras de arte e depredaram edifícios tombados.
Conhecido por xingar o Papa, o ex-deputado
Frederico d’Avila propôs homenagem a Erasmo Dias, símbolo da repressão militar.
O coronel comandou a violenta invasão da PUC em 1977. Mais tarde, usou o estilo
brucutu para alçar voo solo na política.
A exaltação a golpes e golpistas não é
novidade na política brasileira. O então deputado Jair Bolsonaro se projetou ao
enaltecer o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra na votação do impeachment
de Dilma Rousseff.
O Conselho de Ética da Câmara se recusou a
puni-lo pela quebra de decoro. A leniência abriu caminho para o capitão chegar
ao Planalto, onde manteria a democracia sob ataque permanente.
“É fácil entender as razões que levam
governantes com vocação para autocratas a fraudar a História”, escreveu a
professora Heloisa Starling em ensaio no jornal literário Pernambuco.
O texto explica como a extrema direita
fabrica utopias regressivas, idealizando o passado ditatorial para mobilizar
eleitores. “Quando as linhas divisórias entre verdade e fraude ficam
indistintas, deixa de existir uma base factual para se questionar o poder”,
alerta.
Provocado, o STF suspendeu o Dia do Patriota
e instou o governador Tarcísio de Freitas a explicar a homenagem ao coronel. A
Corte fez bem, mas seria melhor se os políticos que se dizem democratas
tivessem agido antes. A omissão deles permitiu que as provocações autoritárias
virassem leis.
Um comentário:
Que lei?
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