Folha de S. Paulo
Só o controle civil cura o trauma da longa
trajetória de intervenções militares no país
Há no Brasil um temor reverencial às Forças Armadas, ao mesmo tempo em que a sociedade desconhece o alcance preciso de suas funções e o Congresso se mantém indiferente ao tema. E aí, quando os militares voltam a ser assunto na cena nacional, como agora em função da influência no governo Bolsonaro e envolvimento em ilicitudes, o que se tem é um debate desencontrado que passa ao largo do essencial: a definição de uma política de defesa sob o controle objetivo do poder civil.
"Ninguém entende nada do assunto. O
Congresso não assume seus deveres, e as elites não querem saber dessa
discussão", diz o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann.
Para ele, nesse cenário os militares ficam "soltos", numa suposta
autonomia onde viceja o fantasma da tutela. Jungmann considera que o atual
titular da Defesa, José Múcio,
acerta quando propõe que militares candidatos sejam afastados da carreira e
atua para identificar quem se envolveu em tramas
golpistas a fim de preservar a instituição. Mas, alerta,
precisa de respaldo do Legislativo e diálogo com a sociedade.
"É preciso definir onde e como as
Forças Armadas podem atuar, com o estabelecimento claro de permissões e
restrições", pondera. Proposta não falta, bem como disposição dos altos
comandos que se recusaram a atender aos apelos do ex-presidente.
O que não existe é disposição de encarar o
problema. Um projeto estratégico de defesa e segurança com todas as definições
a que alude Raul Jungmann dorme aprovado no Parlamento desde 2020 sem que os
governos de Bolsonaro e Luiz Inácio
da Silva tenham se animado a executá-lo.
Giram em círculos entre o hiperbólico
protagonismo, o ressentido revanchismo e o paralisante pisar em ovos. E sem a
indispensável bússola não há um rumo a ser necessariamente dado pelo poder
civil, cujo controle firme é o único jeito de curar o trauma da longa
trajetória de intervenção dos militares na vida do país.
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