terça-feira, 8 de agosto de 2023

Eliane Cantanhêde – E agora, José?

O Estado de S. Paulo

Lula superou o pior e capitalizou o melhor momento. O que vem pela frente?

O presidente Lula vive numa montanha-russa, ora nas nuvens, ora lá no fundo. Depois de resgatar as políticas sociais e reagir ao 8 de Janeiro liderando os Poderes e os Estados pela democracia, ele desandou a falar besteiras, confraternizou com Venezuela, Rússia e China, confrontou Estados Unidos e Europa e jogou montes de dúvidas sobre a economia e o Lula 3. Mais à esquerda, estatizante, gastador?

A partir daí, os articuladores políticos entraram em campo e Lula fez uma correção de rumos, botou a política externa no prumo e assumiu o ataque sistemático aos juros estratosféricos, ao Banco Central e a Roberto Campos Neto. Colou! Quem gosta de juros altos? Ninguém.

Os dados econômicos ajudam: inflação recua (até pela política monetária do BC…), desemprego cai, a nota do Brasil nas agências de risco melhora, os investimentos crescem, a previsão de PIB só sobe. E o Congresso foi camarada nas primeiras rodadas de âncora fiscal, reforma tributária e novas regras do Carf. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas... E agora?

Com a redução de meio ponto porcentual dos juros e a sinalização de que a queda vai se repetir ao longo do ano, Lula comemora uma vitória e a expectativa de aquecimento da economia. Porém, ele perde uma forte bandeira política e uma conveniente blindagem econômica. Bater em juros e bancos dava “Ibope” e ele vai ter de arranjar um novo “inimigo”. E, se a responsabilidade fiscal balançar e a economia derrapar, também vai ter de arranjar um novo “culpado”.

O otimismo está calcado nos bons indicadores econômicos e também no ajuste das contas públicas, mas quem acredita em déficit zero em 2024? Se não vier, e é bastante provável que não venha, será um banho de água fria na política econômica e no maior trunfo do governo: Fernando Haddad, da Fazenda.

É hora de dúvidas. O Congresso anda mais arisco, Arthur Lira adiou a votação da âncora fiscal na Câmara, “por falta de consenso”, e a reforma tributária vai receber emendas no Senado, para o bem ou para o mal. Por trás disso, está o guloso Centrão, esfregando as mãos para devorar ministérios, gerando, inclusive, o pavor de novos petrolões.

Os ventos que vêm dos EUA já estremecem dólar e Bolsa. Márcio Pochmann no IBGE é um sinal de que o PT quer mais espaços e impor suas políticas. E a mão pesada na Petrobras começa a cobrar seu preço, na política e na economia. Com o gap entre os valores internacionais e internos, o lucro da companhia despencou 47% no segundo trimestre, diante de 2022. Mercado, investidores e especialistas criticam, bolsonaristas fazem a festa. E as muitas interrogações preocupam.

 

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