sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Claudia Safatle - Efeito da guerra é incerto, mas dever de casa é obrigação

Valor Econômico

É importante prestar atenção na fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que disse que “a barra subiu para todos”

É cedo para se ter uma noção da dimensão dos impactos sobre a economia brasileira da guerra entre Israel e o Hamas. Não há clareza sobre os rumos dos preços do petróleo, que podem pressionar a inflação no país, colocando freios na redução da taxa de juros. Tudo vai depender da extensão desse conflito. Ele terá ou não a participação do Irã e da Arábia Saudita?

São vários senões que desde o último sábado nos deixam com os olhos pregados na televisão. Síria e Líbano, o que vão fazer? É impossível não se pensar no destino dos 2 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza sem energia, sem água e sem alimentos, todos cortados por Israel depois do ataque insano cometido pelo Hamas. E as crianças de Israel? Há vídeos terríveis circulando na internet que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comentou sobre as atrocidades cometidas pelo Hamas.

Com as atenções voltadas para os principais indicadores que poderiam marcar o tamanho do conflito, não houve queda expressiva nas bolsas de valores, os preços do petróleo não foram para as alturas, ao contrário, caíram; e a cotação do dólar não explodiu, ao contrário, teve uma desvalorização frente o real. O dólar fechou a quarta feira, antes do feriado, em queda de 0,14%, cotado a R$ 5,0489. O petróleo Brent teve queda de 2,09% para dezembro, custando US$ 85,82 o barril, e o WTI também caiu 3,08 %, passando para US$ 82,07 o barril.

OS juros americanos continuam a ser uma das grandes preocupações do mundo, assim como a situação fiscal que pressiona a taxa de juros de lá. Encarece o custo de captação que os países, inclusive o Brasil, pagam quando contratam um empréstimo externo.

Os investidores trabalham com a probabilidade de que a taxa de juros americana tenha mais um aumento neste ano, de 0,25 ponto percentual.

É importante prestar atenção na fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em encontro recente com empresários no Guarujá (litoral de São Paulo), ele disse que “a barra subiu para todos”.

Segundo o presidente do Banco Central, o mundo todo fez um grande esforço fiscal e monetário para evitar uma depressão em uma saída organizada (da pandemia), mas ficou a conta para pagar.

"Nesse sentido, a barra sobe um pouco para todo mundo. Isso significa que a gente precisa fazer o dever de casa melhor", disse.

Ele ressalvou que o governo brasileiro está na direção correta e que o corte de gastos é um problema crônico no país.

A direção correta é o compromisso do governo Luiz Inácio Lula da Silva em zerar o déficit primário, cada dia menos crível. Os gastos. no Brasil são um problema crônico que o governo evita mexer e falar. Veja os gastos tributários, que há alguns anos o ministro da Fazenda que assume começa sua gestão falando em cortá-los, mas em breve ele se esquece e não se fala mais nisso.

Do Congresso e dos demais ministros que não têm compromisso com a austeridade fiscal vem a pressão para aumentar a despesa pública. Em geral, conseguem alguma coisa.

O fato de zerar o resultado primário não significa que esteja resolvido o rombo das contas públicas do Brasil. O déficit primário é apenas uma conta menor do que a do déficit nominal, que não considera os juros pagos sobre a dívida pública.

O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 106,6 bilhões em agosto.

No acumulado em 12 meses, o déficit nominal alcançou R$ 762,5 bilhões, equivalente a 7,30% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse é o verdadeiro tamanho do rombo nas contas públicas do país.

O resultado primário é de um déficit bem menor.

O setor público teve um déficit primário de R$ 22,8 bilhões em agosto. Nos 12 meses encerrados em agosto, o déficit foi de R$ 73,1 bilhões, equivalente a 0,70% do PIB.

Os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por competência, somaram R$ 83,7 bilhões em agosto de 2023,

No acumulado em 12 meses até agosto, os juros nominais alcançaram R$ 689,4 bilhões, ou seja, 6,60% do PIB.

Quando o presidente do Banco Central fala em fazer melhor o dever de casa, ele, provavelmente, está tendo em mente o déficit nominal. Ele era de 2,9% do PIB em 2005, quando foi proposto ao então presidente Lula que tivesse um programa para zerá-lo no prazo de até dez anos. Esta seria a forma de derrubar a taxa de juros para um patamar mais próximo das taxas internacionais de então.

Lula, porém, ficou do lado dos desenvolvimentistas do governo.

Hoje o déficit nominal é de 7,30% do PIB, quase o triplo do que era.

E o governo conta com o aumento das receitas para cumprir a sua meta de zerar o déficit primário no próximo ano. Enquanto isso os gastos crescem.

 

2 comentários:

EdsonLuiz disse...

Roberto Campos será xingado pelo PT!

O PT, "xiita" que é, e adepto de gastança porque sabe que o poder público gastar dá voto e poder e preferir fingir que a gastança não tem consequências negativas para todos, principalmente para os mais pobres, vai xingar e xingar e xingar Roberto Campos toda vez que o íntegro e competente economista s.o.l.e.t.r.a.r os fundamentos teóricos e práticos da profissão.

Começam por chamar de "neoliberal" sem fazer a menor ideia do que é neoliberalismo e sem a menor diferenciação entre o que é a teoria neo-clássica como matriz teórica em economia e o que é o liberalismo transformado em ideologia.

Cok os negacionistas, coitado do conhecimento técnico e teórico!
▪(Mas para eles, os outros é que são negacionistas. Aliás, para eles os outros é que são corruptos, os outros é que são antiprogressistas, os outros é que são antidemocráticos...)

EdsonLuiz disse...

Nenhuma solução em economia é feita com o uso dos conhecimentos de apenas uma escola de ideias ; sempre depende do problema a ser resolvido para escolher as ferramentas de cada escola de economia a serem empregadas.

O emprego de ferramentas da matriz neoclássica de economia é muito importante em situação de déficit, como a brasileira.

Já o neoliberalismo como ideologia, usado para a captura do Estado para favorecer a acumulação privada e a corrupção, este uso a matriz neoclássica condena até mais que as outras.

No Brasil, a força política que usou o neoliberalismo como ideologia para capturar o Estado, fazer gastos para conseguir mais controle político e favorecer a acumulação privada e a corrupção foram...Lula e o PT.