O Estado de S. Paulo
‘Inaceitável’
O então presidente quis entrar com uma
motociata pelo portal monumental da Aman. General barrou
Descontentes com a atuação do Tribunal
Superior Eleitoral no pleito que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva, generais do
Comando de Operações Terrestres (COTer) teriam produzido um estudo sobre a
intervenção no Judiciário, com o afastamento de ministros considerados hostis a
Jair Bolsonaro. Havia, ainda, oficiais dos Comandos Militares do Norte e do
Oeste que se manifestavam contra o presidente eleito em redes sociais ou em
abaixo-assinados. No Alto-Comando, uma minoria simpatizava com ideias exóticas.
No Exército, descobertas da PF implicando militares em suspeitas de irregularidades aumentaram ainda mais a distância entre legalistas e defensores do ex-presidente. Aqui vão dois casos de generais que disseram não a Bolsonaro.
O primeiro aconteceu na maior crise militar
da Nova República, a que levou à demissão do ministro da Defesa, Fernando
Azevedo e Silva, e dos comandantes das três Forças. A gravidade do momento pode
ser aferida pela história da decisão tomada pelo general José Luiz Dias
Freitas. Então chefe do COTer, Freitas recebeu a visita do general Braga Netto,
recém-nomeado ministro da Defesa.
Ele queria convidá-lo a assumir a Força
Terrestre. “Não posso. Não vou durar uma semana no cargo”, disse. A razão era
que ele não se sujeitaria aos caprichos do presidente. Sábia decisão? Um mês
depois, o Exército se viu às voltas com o caso de Eduardo Pazuello, general da
ativa que discursou em comício de Bolsonaro, no Rio. Freitas passou à reserva e
foi viver no interior do Paraná, onde começou a prestar serviço voluntário em
uma Santa Casa. Pazuello se elegeu deputado pelo PL em 2022.
MOTOCIATA
Em 2021, o general Paulo Roberto Rodrigues
Pimentel comandava a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) quando
Bolsonaro começou suas motociatas. O presidente teve então a ideia de entrar
com uma delas, vinda de Resende (RJ), pelo portal monumental da Academia no dia
da cerimônia de entrega dos espadins. Era a primeira vez, desde o início da
pandemia, que a tradicional festa teria a presença de familiares e autoridades
na escola.
Pimentel, um Força Especial, foi abordado
pelos ministros Luiz Eduardo Ramos e Braga Netto. Os dois contaram a intenção
do presidente. E tentaram convencê-lo. Ele respondeu que era inaceitável e só
havia um jeito de Bolsonaro entrar com a motociata na Aman: nomeando outro
general para comandar a escola.
SOLUÇÃO
O general recebeu apoio de outros oficiais.
Uma solução foi encontrada: a motociata se concentrou fora dos muros da Aman. A
espada do general não tinha partido. Servia aos governos como representantes do
Estado e não a um líder. Terminada a cerimônia, o presidente deixou a academia
de helicóptero. Pimentel acabou promovido e foi comandar a 3.ª Divisão do
Exército, a Divisão Encouraçada, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Ele é irmão de Carlos Alberto Rodrigues
Pimentel, o general que comandava a Brigada de Operações Especiais. Era Carlos
que o exmajor Ailton Barros queria convencer a participar de um golpe, conforme
registrado em mensagem encontrada pela PF. Nenhum dos irmãos se deixou levar
pelo canto da sereia que terminou no 8 de janeiro.
Assim também foram os comportamentos dos generais Tomás Paiva, Richard Nunes, Guido Amin, Valério Stumpf e outros, chamados de melancia pelos radicais bolsonaristas. O Exército não era monolítico, como reconhecem analistas como o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, professor da UFRJ. Nem seus generais em conjunto estavam à disposição de Bolsonaro para qualquer tipo de aventura.
Um comentário:
Interessante e informativo. É bom saber que generais foram corajosos e se posicionaram contra as atitudes e tentativas ilegais ou criminosas de Bolsonaro.
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