sábado, 28 de outubro de 2023

Miguel Torre* - Em defesa do interesse nacional e dos empregos no Brasil

Correio Braziliense

A importação e a exportação de bens fazem parte do livre mercado, desde que observadas práticas justas de comércio. Não é o que vem acontecendo

Chamou-me a atenção a reação de alguns setores à decisão da indústria do aço de pedir elevação emergencial e temporária da alíquota de importação de 18 produtos siderúrgicos para fazer frente à avalanche do aço que vem ingressando, especialmente da China. Esses setores, de forma intrigante e incompreensível, alegam que a iniciativa não só estaria associada a um suposto oportunismo de elevação de preços, como também inviabilizaria o processo de reindustrialização.

A importação e a exportação de bens fazem parte do livre mercado, desde que observadas práticas justas de comércio. Não é o que vem acontecendo. Há um enorme excesso de capacidade de produção de aço no mundo, grande parte instalado na Ásia. Há, vale ressaltar, uma desaceleração do crescimento, especialmente na China, diminuindo o consumo de aço em seu mercado doméstico. Diante da produção anual de mais de 1 bilhão de toneladas de aço, cerca de 31 vezes maior do que a produção de aço no Brasil, as siderúrgicas chinesas precisaram encontrar uma solução urgente para seus estoques.

A solução até então encontrada foi simples. Graças aos subsídios recebidos do governo, as empresas chinesas, em grande parte estatais, vêm exportando produtos siderúrgicos a preços abaixo de seus custos de produção.

É com essa situação que a indústria de aço brasileira está se defrontando atualmente. Alguns distribuidores e consumidores de aço no país vêm se aproveitando dessa prática destrutiva para importar grandes volumes de produtos siderúrgicos e, em silêncio, aumentar suas margens, mesmo que à custa da destruição do parque siderúrgico do país e da perda de empregos. Neste momento, garantir empregos de qualidade e especializados é questão muito importante para o Brasil.

Nos últimos 10 anos, a média mensal de importações de aço foi de cerca de 252 mil toneladas, sendo 113 mil toneladas da China. Em 2023, a média de janeiro a agosto foi de 398 mil toneladas mensais, sendo 216 mil da China, 54% do total. Em setembro, as importações brasileiras alcançaram o volume de 550 mil toneladas, 67% provenientes da China. Nesse mês, as importações representaram 23% do consumo no país, quando historicamente esse percentual era de 12%.

Para fazer frente a essa avalanche de aço, é compreensível e defensável que a indústria do aço esteja pleiteando a elevação da alíquota de importação de alguns produtos para 25%, dos atuais 9,6%. Não se trata de invenção brasileira: outros países seguiram o mesmo caminho. Estados Unidos, Reino Unido, 27 países europeus e o México já elevaram a alíquota para 25%.

Precisamos parar de exportar renda e empregos para outros países e voltar a ter uma produção industrial feita por brasileiros e para os brasileiros. A reindustrialização defendida pelo governo, pelas indústrias e por nós, trabalhadores, pressupõe o fortalecimento das cadeias de produção no país e a maior oferta de empregos qualificados. Uma indústria nacional forte é base essencial para o crescimento da economia brasileira.

Nós, trabalhadores, defendemos a produção industrial, investimentos em tecnologia e desenvolvimento social como motor do crescimento econômico e da melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Se nada for feito para controlar as importações predatórias de aço, mais siderúrgicas paralisarão suas operações, gerando demissões, desabastecimento de aço e consequente desarranjo das cadeias produtivas no país. É importante destacar que há uma cadeia, com geração de empregos, nos setores metalúrgico, químico, minério, transporte, alimentação, entre outros.

Neste cenário, todos nós seremos perdedores. O Brasil precisa de uma política de fortalecimento da indústria, que garanta empregos de qualidade e competitividade no cenário internacional.

*Miguel Torre, presidente da Força Sindical

 

Nenhum comentário: