“Na história política, o
indivíduo, na singularidade da sua índole, do seu gênio, das suas paixões, da
energia ou da fraqueza de caráter, em suma, em tudo o que caracteriza a sua
individualidade, é o sujeito das ações e dos acontecimentos. Na história da filosofia,
estas ações e acontecimentos, ao que parece, não têm o cunho da personalidade
nem do caráter individual; deste modo, as obras são tanto mais insignes quanto
menos a responsabilidade e o mérito recaem no indivíduo singular, quanto mais
este pensamento liberto de peculiaridade individual é, ele próprio, o sujeito
criador. Primeiramente, estes atos do pensamento, enquanto pertencentes à
história, surgem como fatos do passado e para além da nossa existência real. Na
realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra da história; ou, para
falar com maior exatidão, do mesmo modo que na história do pensamento o passado
é apenas uma parte, assim no presente, o que possuímos de modo permanente está
inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. O patrimônio
da razão autoconsciente que nos pertence não surgiu sem preparação, nem cresceu
só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais
propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero
humano.”
*Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770-1831). “Introdução à História da Filosofia” (28.10.1816), p.321. Os Pensadores (Hegel).
Editora Abril Cultural, 1985.
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