A discussão fiscal
se tomada por um ângulo maniqueísta, simplista e caricatural parece uma luta
entre, de um lado, os “mocinhos” que querem fazer obras, implantar políticas
sociais, aumentar salários dos servidores, dar maiores incentivos, transferir
mais recursos para os municípios, e do outro, os “bandidos” que querem
controlar o déficit, diminuir o endividamento, cortar gastos, frear a compulsão
ativista do Estado. Mas não se trata disso.
Qualquer um, a
partir de sua vida concreta, pode entender que quando se fala em gastos, o céu
não é o limite. Quantas vezes uma pessoa gostaria de mudar para uma casa
melhor, comprar um carro mais sofisticado ou fazer uma viagem ao exterior e não
o faz por uma razão muito simples: restrição orçamentária. A vida dos governos
também é assim. Não basta a vontade de fazer. É preciso um padrão de
financiamento consistente e sustentável. Afinal, os gastos públicos são feitos
com os nossos impostos.
É preciso que a
sociedade brasileira forme convicção sobre o assunto para além da retórica
demagógica e vazia.
O Brasil tem
dívida alta. Menor que a de muitos países desenvolvidos como proporção do PIB,
é verdade. Mas a maior entre os países emergentes e os latino-americanos. Essa
dívida se avoluma como bola de neve, sofrendo o efeito dos juros. Há dois
problemas principais com o crescimento da dívida: i. quanto maior ela é, mais
cresce a percepção do risco de calote, e maior é o prêmio exigido pelos
compradores de títulos do governo, que financiam o déficit, o custo da dívida
aumenta, alimentando o círculo vicioso; ii. há uma questão de solidariedade
geracional envolvida, se trocarmos gasto presente por dívida futura, estaremos
sobrecarregando o futuro de nossos filhos e netos.
É por isso que o
governo não pode permanentemente gastar mais que arrecada. O déficit crônico
deriva em inflação. Para combater a inflação, os juros sobem. Com juros altos,
a economia desaquece e o desemprego acelera. E a dívida dispara, povoando de
incertezas o futuro do país.
De 2014 a 2023,
com a pequena exceção de 2022, produzimos déficits primários. Para estabilizar
a relação entre tudo o que produzimos e a dívida pública precisaríamos de um
superávit de 1,5% do PIB a cada ano. Este deveria ser o objetivo. O déficit
zero proposto para 2024 seria só um ponto de reversão no meio do caminho.
Portanto, agora no
final de novembro e em dezembro, quando você ouvir essa discussão, procure ir
além das aparências e tente identificar na essência aonde se encontra o
verdadeiro interesse público.
*Economista e Professor. Ex-Deputado Federal pelo
PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010).
Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado.
Um comentário:
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A discussão fiscal se tomada por um ângulo maniqueísta, simplista e caricatural parece uma luta entre, de um lado, os “mocinhos” que querem controlar o déficit, diminuir o endividamento, cortar gastos, frear a compulsão ativista do Estado, e do outro, os “bandidos” que querem fazer obras, implantar políticas sociais, aumentar salários dos servidores, dar maiores incentivos, transferir mais recursos para os municípios. Mas não se trata disso.
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