sábado, 16 de dezembro de 2023

Dora Kramer - O PT e sua arte de viver

Folha de S. Paulo

Partido sacrifica tudo, de parceiros à coerência, para manter viva sua relevância

PT é um mestre na arte da sobrevivência. Partidos com muitos menos problemas que os enfrentados pelos petistas têm sido vítimas fatais da má administração de circunstâncias adversas e/ou dos próprios erros.

Não foram poucos os infortúnios enfrentados pelo sobrevivente de enormes escândalos, da dizimação da antiga cúpula, da prisão do líder maior e de fracassos eleitorais. Nada disso posto à mesa da consciência na forma de autocrítica.

Para o PT, qualquer que seja a questão é culpa sempre do outro. Sujeito oculto ou explícito, não interessa, desde que alguém que não seja do partido esteja na posição de candidato a réu. Político, jurídico ou eleitoral. Faz parte da precisão com que é executado o plano de seguir relevante apesar dos pesares.

Os iludidos da frente ampla se espantam e a direita adesista se irrita quando veem o PT aprovar uma resolução atacando diretrizes e parceiros do governo. De outra forja, não compreendem a lógica do embate permanente que mantém o partido vivo.

Por mais que não encontre respaldo na realidade e nas necessidades governamentais, a expressão "austericídio" para comparar rigor fiscal a suicídio político é um achado. Fornece matéria-prima à combatividade da militância. Não deixa morrer a chama que no PSDB apagou-se no vácuo de poder.
Lula e o PT não brincam em serviço e, nesta tarefa, atuam juntos. O presidente faz como Fernando Haddad diz que é para fazer, mas exorta o partido a dizer o oposto. Chama o centrão de raposa guardiã do "galinheiro" e, assim, dá a impressão de que não cedeu ao que de fato se rendeu.

Rendição tática a fim de recuperar terreno. Em São Paulo, Lula dá toda a força a Guilherme Boulos, tenta atrair Marta Suplicy no intuito de fincar bandeira no estado, antiga cidadela tucana. Se der certo, terá mais valor que todas as prefeituras que o PT não conseguir recuperar e a direita vier a conquistar.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

■ " O presidente faz como Fernando Haddad diz que é para fazer, mas exorta o partido a dizer o oposto. Chama o centrão de raposa guardiã do "galinheiro" e, assim, dá a impressão de que não cedeu ao que de fato se rendeu. ".

=》O de sempre::
■Lula sai gritando que o Centrão é a raposa sem assumir que é ele, Lula, quando está presidente, o tutor da raposa.

■E a raposa, bem treinada que é, sempre traz as galinhas para dividir com Lula, do mesmo modo como dividia as galinhas com Jair Bolsonaro quando era ele o tutor e, antes, nos quatro mandatos do PT anteriores a Bolsonaro, a raposa já dividia as galinhas com Lula.

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade.