O Estado de S. Paulo
STF decide, Congresso desautoriza, Lula veta, o Congresso derruba o veto e… tudo volta para o STF
Após as festas pela aprovação de Flávio Dino
para o Supremo e de Paulo Gonet para a PGR, no Senado, as guerras (no plural)
continuam. Já no dia seguinte o Congresso derrubou dois vetos centrais do
presidente Lula, um contra o marco temporal das terras indígenas e o outro
contra a desoneração da folha de pagamento de 17 setores com grande capacidade
de gerar (ou queimar) empregos. Isso joga os três poderes numa arena em que um
corre atrás do outro, em círculos, sem chegar a lugar nenhum.
Vejamos o marco temporal, estabelecendo que as comunidades indígenas só têm direito às (suas) terras se comprovarem que já estavam nelas antes da constituição de 1988: o Supremo julgou contra, o Congresso desautorizou o Supremo, Lula vetou a decisão do Congresso, o Congresso acaba de derrubar o veto de Lula e… recomeça tudo no Supremo.
Esse julgamento parece mais fácil na Corte —
afinal, os parlamentares usaram um projeto de lei, instrumento inapropriado
para o caso —, mas um Poder desautorizar o outro é sempre complicado. E o pior
é a desoneração da folha, que envolve Legislativo, Executivo e, correndo por
fora, o setor privado. O STF vai se meter?
O maior derrotado é Fernando Haddad, que
insiste em taxar mais os mais ricos, começar a taxar os que não contribuem e
dar fim a mamatas históricas. Mas, nesta, ele errou e perdeu o timing. Poderia
ter negociado antes de o governo decidir pelo fim da desoneração, ter
apresentado uma proposta intermediária antes da votação no Congresso, do veto
de Lula e, no fim, da derrubada do veto. Ou lavou as mãos ou dobrou a aposta,
perde e espera que o STF salve a lavoura.
A intenção é agir em duas frentes, tentando
uma liminar do STF para ganhar tempo, enquanto negocia com o Congresso a
reoneracão gradual de até cinco anos, estudando setor a setor. A pergunta que
não quer calar é: os que forem reonerados mais rapidamente vão engolir essa?
O primeiro ano do governo Lula vai
terminando, com aprovação de Dino e de Cristiano Zanin para o STF, avanços na
arrecadação federal e um saldo na economia melhor do que o esperado. Tudo isso
custa caro e o governo abre os cofres para o Centrão.
Já o preço que o STF paga por abrir
trincheiras contra armas, golpes e golpistas é na popularidade. Ministro de
toga não joga para a torcida e voto do Supremo não deve buscar aplauso popular,
mas nunca convém trocar aplauso por vaia. Flávio Dino, que engrossa as fileiras
de Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, tende a puxar mais vaias ou aplausos?
Um comentário:
Aqui vai meus aplausos.
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