O Estado de S. Paulo
Foi só o presidente do Banco Central dos
Estados Unidos (o Fed), Jerome Powell, sugerir estar próximo por lá o fim do
ciclo dos juros altos para que os mercados mudassem seu jogo.
Antes, estavam encolhidos, com medo de que a economia global mergulhasse na recessão. Desde a última quarta-feira, no entanto, investidores e agentes financeiros saíram das suas tocas, os juros praticados no mercado futuro caíram, as cotações do petróleo, que haviam mergulhado, voltaram a empinar, as bolsas ensaiaram um rali e as aplicações de risco ganharam fôlego.
O pouso suave ainda não está garantido, os
preços dos serviços nas economias avançadas continuam subindo mais do que a
inflação. Mas as condições globais parecem melhorar.
Os grandes bancos centrais tiveram de puxar
os juros para cima para combater uma renitente inflação. Esse forte aumento de
preços globais foi provocado não apenas porque a pandemia desorganizou os
fluxos comerciais e elevou os custos de produção. Foi provocado principalmente
pelo enorme despejo de moeda pelos governos e pelos bancos centrais a fim de
combater a paradeira. Agora, chegam acenos importantes do Fed e do Banco
Central Europeu que apontam para o fim da secura.
Se a gradual redução dos juros se confirmar
nas principais economias, o Brasil poderá ser beneficiado. O maior apetite por
tomadas de risco deverá despachar mais capitais para cá. Quando houver boa
recuperação da atividade econômica, aumentará também a demanda por produtos
brasileiros de exportação, especialmente commodities, como grãos, minério de
ferro e petróleo.
Com a queda dos juros nos países avançados,
será reduzida a incerteza que até agora vinha prejudicando a economia
brasileira. Há apenas 12 meses, o índice de risco medido pelo adicional sobre
juros (CDS5) cobrado lá fora pelos títulos do Tesouro do Brasil era de 241
pontos (ou 2,4 pontos porcentuais) acima dos juros pagos pelos títulos do
Tesouro americano. Ontem, fechou abaixo dos 140 pontos.
O nível de incerteza global ainda persiste.
Os Estados Unidos estão atolados em dívidas e continuam gastando neste ano de
eleições. A economia da União Europeia segue patinando e a China ainda não
resolveu seus problemas internos, especialmente a encalacrada em que está
metido seu setor imobiliário. Mas o astral geral está mais para a confiança do
que para o desânimo.
Enfim, pode estar a caminho mais uma
temporada de bonanza de que o governo Lula pode tirar proveito, desde que não
faça besteiras e desde que leve a sério políticas que garantam o equilíbrio das
contas públicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário