O Globo
Ao apreender passaportes de militares que marcharam com Bolsonaro, STF abre caminho para romper tradição de impunidade
Demorou, mas enfim chegou a vez dos generais.
A Polícia Federal fez ontem a primeira operação contra militares de alta
patente envolvidos na tentativa de golpe. De acordo com as investigações, eles
estavam no topo da conspiração de Jair Bolsonaro contra a democracia.
A PF fez buscas nas casas de cinco generais e
um almirante que serviram ao projeto do capitão. Três chefiaram ministérios,
três comandaram tropas. Todos participaram do plano para rasgar a Constituição
e subverter o resultado das urnas.
O mais influente do grupo era o general Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Bolsonaro. Descrito como um estadista durante a intervenção na segurança no Rio, ele emerge do inquérito como um radical de estilo miliciano.
Além de conspirar contra a democracia, tramou
contra colegas de farda que hesitavam em aderir ao estado-maior do golpe.
Propôs “oferecer a cabeça” do comandante do Exército e incitar a turba contra o
comandante da Aeronáutica. “Inferniza a vida dele e da família”, ordenou.
Em reunião com o presidente, o general
Augusto Heleno disse que era preciso “virar a mesa” antes das eleições. O
general Paulo Sérgio Nogueira descreveu o Tribunal Superior Eleitoral como um
inimigo a ser aniquilado. “Vou romper aqui e iniciar minha operação”, informou,
após liderar uma campanha de desinformação contra a urna eletrônica.
As descobertas da PF enfraquecem versões
fabricadas para atenuar o papel dos militares na tentativa de golpe. De acordo
com as investigações, o complô não atraiu apenas oficiais da reserva. O
comandante da Marinha se envolveu até o pescoço. O chefe de operações especiais
do Exército informou ao capitão que sua tropa estava pronta para agir.
Se não marchou na linha de frente, o
comandante da Força terrestre também não se levantou publicamente em defesa da
legalidade. Após a derrota de Bolsonaro, Freire Gomes assinou uma nota que
ajudou a manter os extremistas diante dos quartéis. Ao mesmo tempo, protegeu o
acampamento ilegal que serviria de incubadora para os atos de 8 de janeiro.
Fã da ditadura de 1964, Bolsonaro encorajou
os militares a retomarem uma velha tradição de golpes e quarteladas contra o
poder civil. Ao longo da História, os conspiradores sempre conseguiram
barganhar anistias e escapar da Justiça. Ao ordenar a apreensão de passaportes
e proibir os generais de deixarem o país, o STF abre caminho para romper essa
sina.
2 comentários:
Que mentiras vai nos contar o filósofo bolsonarista Denis Rosenfield, que nega que 8/1 tenha sido uma tentativa de golpe?
Verdade.
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