sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Bernardo Mello Franco – Os generais da banda

O Globo

Ao apreender passaportes de militares que marcharam com Bolsonaro, STF abre caminho para romper tradição de impunidade

Demorou, mas enfim chegou a vez dos generais. A Polícia Federal fez ontem a primeira operação contra militares de alta patente envolvidos na tentativa de golpe. De acordo com as investigações, eles estavam no topo da conspiração de Jair Bolsonaro contra a democracia.

A PF fez buscas nas casas de cinco generais e um almirante que serviram ao projeto do capitão. Três chefiaram ministérios, três comandaram tropas. Todos participaram do plano para rasgar a Constituição e subverter o resultado das urnas.

O mais influente do grupo era o general Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Bolsonaro. Descrito como um estadista durante a intervenção na segurança no Rio, ele emerge do inquérito como um radical de estilo miliciano.

Além de conspirar contra a democracia, tramou contra colegas de farda que hesitavam em aderir ao estado-maior do golpe. Propôs “oferecer a cabeça” do comandante do Exército e incitar a turba contra o comandante da Aeronáutica. “Inferniza a vida dele e da família”, ordenou.

Em reunião com o presidente, o general Augusto Heleno disse que era preciso “virar a mesa” antes das eleições. O general Paulo Sérgio Nogueira descreveu o Tribunal Superior Eleitoral como um inimigo a ser aniquilado. “Vou romper aqui e iniciar minha operação”, informou, após liderar uma campanha de desinformação contra a urna eletrônica.

As descobertas da PF enfraquecem versões fabricadas para atenuar o papel dos militares na tentativa de golpe. De acordo com as investigações, o complô não atraiu apenas oficiais da reserva. O comandante da Marinha se envolveu até o pescoço. O chefe de operações especiais do Exército informou ao capitão que sua tropa estava pronta para agir.

Se não marchou na linha de frente, o comandante da Força terrestre também não se levantou publicamente em defesa da legalidade. Após a derrota de Bolsonaro, Freire Gomes assinou uma nota que ajudou a manter os extremistas diante dos quartéis. Ao mesmo tempo, protegeu o acampamento ilegal que serviria de incubadora para os atos de 8 de janeiro.

Fã da ditadura de 1964, Bolsonaro encorajou os militares a retomarem uma velha tradição de golpes e quarteladas contra o poder civil. Ao longo da História, os conspiradores sempre conseguiram barganhar anistias e escapar da Justiça. Ao ordenar a apreensão de passaportes e proibir os generais de deixarem o país, o STF abre caminho para romper essa sina.

 

2 comentários:

Daniel disse...

Que mentiras vai nos contar o filósofo bolsonarista Denis Rosenfield, que nega que 8/1 tenha sido uma tentativa de golpe?

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade.