Folha de S. Paulo
General Freire Gomes teria se recusado a
participar de golpe com Bolsonaro
Com a operação da Polícia Federal na última quinta-feira
(8), começamos a entender as disputas ocorridas dentro das Forças
Armadas durante a ofensiva golpista de Jair
Bolsonaro.
O golpismo se torna mais aberto quando morre
a desculpa das urnas eletrônicas. A PF tem prints de conversa de Mauro Cid,
ajudante-de-ordem de Bolsonaro, em que ele admite que nada de consistente foi
encontrado pelas auditorias nas urnas eletrônicas.
Seu interlocutor, o tenente-coronel Hélio
Ferreira Lima, conclui que, neste caso, será necessária uma quebra
institucional. Se a preocupação com as urnas fosse legítima, a conclusão seria
o exato contrário. Ferreira Lima encerra a conversa dizendo: "O povo está
onde ele pediu. Ele prometeu, Cid".
O "Ele" que prometeu era Bolsonaro. E o ex-presidente tentou, sim, cumprir sua promessa golpista.
Segundo Cid, o ex-presidente levou
uma minuta de golpe aos três chefes militares. A minuta foi redigida por
Filipe Martins, assessor de Bolsonaro e moleque burro do Olavo que foi em cana
na quinta-feira.
Bolsonaro, sempre segundo Cid, apresentou a
minuta aos chefes das três Forças: O almirante Almir Garnier, da Marinha, teria
apoiado o golpe (tornando-se, nesse caso, desertor). Os chefes do Exército
(general Freire Gomes) e da Aeronáutica (brigadeiro Baptista Jr.) teriam
recusado.
Essa versão é consistente com as evidências.
A Polícia
Federal já tem prints do general Walter
Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro, ordenando uma campanha
de ódio contra Freire Gomes e Baptista Júnior, bem como uma campanha de
exaltação de Garnier.
Braga
Netto chama Freire Gomes de "cagão" e dá a ordem:
"Elogia o Garnier e fode o BJ".
Os militares
bolsonaristas organizaram um levante contra o chefe do Exército. Publicaram
um documento, "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da
Ativa do Exército Brasileiro" (p. 31), que é (a) um raríssimo manifesto
político de oficiais da ativa, (b) uma exortação ao golpe e (c) uma ameaça a
Freire Gomes e aos oficiais legalistas.
O texto não está incluído na decisão de Alexandre
de Moraes, mas é possível achá-lo no site "Defesa.net". Após
ataques ao STF e
à mídia, consta, em negrito: "Covardia, injustiça e fraqueza são os
atributos mais abominados para um Soldado".
No site Defesa.net há a informação de que
"ao publicarmos essa carta, havia 1.093 assinaturas no documento".
Pode ser mentira, obviamente. Os golpistas tinham todo interesse em inflar os
números. Mas todos nós gostaríamos de ver essa lista de assinaturas.
A carta foi lida pelo bolsonarista Paulo
Figueiredo na Rádio Jovem Pan (onde mais?) em 29 de dezembro de 2022.
Figueiredo também "denunciou" na Jovem Pan (onde mais?) nomes de
generais que resistiam ao golpe. A PF tem prints que mostram que os golpistas
já sabiam, antes da transmissão, que militares seriam "denunciados"
por Figueiredo.
Ainda há muito a descobrir, e no fim o golpe
deu errado.
Mesmo assim, é triste que o reflexo dos
militares brasileiros diante de um golpista ainda não seja abrir fogo. Todo
militar golpista é um desertor que planeja roubar as armas da República para
entregá-las a sua facção política em troca de boquinha. Esse foi o sonho da
vida de Jair Bolsonaro. É triste que ele tenha inspirado mais militares
brasileiros a buscá-lo.
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