O Estado de S. Paulo
A Itália já tem uma líder de extrema direita
e o governo sueco tem um partido com raízes neonazistas
Há alguns meses, Geert Wilders era uma
maldição para os partidos holandeses. Força perturbadora de extrema direita por
duas décadas, ele prometeu acabar com a imigração de muçulmanos, taxar véus de
cabeça e proibir o Alcorão. Ele chamou os marroquinos de “escória”. Seu partido
apoiou a saída da União Europeia.
Mas Wilders venceu as eleições em novembro e,
desde então, se tornou uma força política inevitável. “Ele é o maior”, disse
Janka Stoker, da Universidade de Groningen. “Não dá para ignorá-lo.”
Esse dilema fez com que a Holanda se tornasse um teste para a Europa, que lida com a questão do que fazer com o avanço dos extremistas, que já não podem ser considerados marginais. A Itália já tem uma líder de extrema direita e o governo sueco depende de um partido com raízes neonazistas. A extrema direita representa partes significativas da oposição na França e na Alemanha.
Na Holanda, alguns partidos tradicionais responderam ao dilema tapando o nariz e marchando em direção à sala de negociações para formar um governo com Wilders – o diálogo está estagnado não por causa dele, mas em razão de divergência no orçamento. “A normalização de Wilders foi muito rápida”, disse Cas Mudde, da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade da Geórgia.
Os partidos de esquerda rejeitaram Wilders,
mas a questão de como governar com ele não é com eles, mas sim com as forças de
centro-direita, que não escondem o desconforto. A preocupação é tanta que os
quatro partidos moderados, que negociam com ele, firmaram um compromisso em
defensa da Constituição holandesa, o que deve limitar o extremismo de Wilders.
MODERAÇÃO. O documento teria ajudado Wilders
a se distanciar de algumas ideias radicais. Teria, porque seu partido continua
com a mesma plataforma de propostas inconstitucionais, como a proibição de
mesquitas e de escolas islâmicas. O próprio Wilders se recusou a se retratar
por comentários islamofóbicos feitos no passado.
Dada a sua recusa em negar o extremismo e o
fato de que ele e seu partido são a mesma coisa, os holandeses se perguntam com
qual Wilders estão lidando. “Quão crível é alguém que não leva a Constituição a
sério há cerca de 20 anos?”, disse Léonie de Jonge, professora de política da
Universidade de Groningen.
Ao mesmo tempo, Wilders é um dos rostos mais
conhecidos da política da Holanda e atua na Câmara dos Deputados desde 1998.
Durante a maior parte desse tempo, ele foi oposição. Mas conseguiu seu maior
sucesso na última eleição ao vincular sua antipatia pela imigração com questões
mais importantes para os holandeses, como a falta de moradias a preços
acessíveis.
Para encontrar uma saída para o impasse em
torno da formação de um governo, a centro-direita cogita arranjos pouco
ortodoxos, como uma coalizão minoritária ou um gabinete com ministros de
partidos menores ou de fora da política, para criar um amortecedor entre o
gabinete e o Parlamento. Mas ninguém sabe como seria isso na prática. No
entanto, essas opções poderiam até impedir Wilders de se tornar premiê, mas em
todos os cenários o seu partido teria de fazer parte do governo.
Enquanto isso, Wilders continua combativo nas
mídias sociais, levantando dúvidas sobre sua capacidade de servir como uma
força de união. De agora em diante, os quatro partidos de centro-direita terão
de retomar as conversas e chegar a um consenso sobre o tipo de coalizão que
podem apoiar.
Embora as chances de uma aliança tradicional com Wilders no comando possam diminuir em uma nova rodada de negociações, essa opção permanece viva. O próprio Wilders diz querer comandar a Holanda. Quando perguntado recentemente se ainda estava disposto a se tornar premiê, sua resposta foi clara: “Mal posso esperar.”
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