Valor Econômico
O que está em jogo, além do pleito municipal deste ano, é o tabuleiro de 2026
Governo, oposição e Centrão intensificam as
articulações nesta reta final da janela partidária. A fresta se fecha na
sexta-feira (5), e dela surgirá uma nova correlação de forças políticas. O que
está em jogo, além do pleito municipal deste ano, é o tabuleiro de 2026.
Os parlamentares foram para seus redutos
eleitorais com um novo tipo de arma a tiracolo: o poder de barganha que
ganharam com a crescente impositividade das emendas ao Orçamento. Nas contas de
um especialista, dependendo do Estado do parlamentar, um deputado federal pode
ter neste ano de R$ 50 milhões a R$ 68 milhões para destinar a projetos por
meio de emendas individuais e de bancada. É muita coisa. E isso sem falar nas
emendas de comissão, cuja liberação depende de um acordo com o governo ou a
derrubada do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Orçamento.
Mas, além das articulações no varejo, existem os acertos mais amplos. E estes dependem das estratégias dos partidos.
A do PL, por exemplo, é clara. Mesmo
inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro desempenha papel fundamental na
tática do partido.
Nesta semana, viajou a Balneário Camboriú,
Santa Catarina, e depois para a cidade mineira de Uberaba. Na semana passada,
esteve em São Paulo. Participou de um evento de filiação de parlamentares no PL
e de uma homenagem à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, no Theatro Municipal.
Bolsonaro reuniu-se com o prefeito Ricardo
Nunes (MDB), cuja candidatura está atraindo vereadores de diversos partidos.
Michelle, por sua vez, também tem entrado no esforço e recentemente esteve na
Bahia.
A movimentação tende a continuar nos próximos
dias. Pelas regras eleitorais, a janela partidária é considerada uma “justa
causa” para a desfiliação partidária dos detentores de cargos eletivos em fim
de mandato. Neste ano, portanto, vale só para vereadores. Já o prazo de
filiação dos demais potenciais pré-candidatos acaba sábado.
No caso do PL, no entanto, um outro argumento
tem sido utilizado: a possibilidade de o governador Tarcísio de Freitas sair do
Republicanos e transferir-se para o partido com o objetivo de disputar o pleito
de 2026 por uma nova legenda. Seja para permanecer mais um mandato
administrando o maior Estado do país ou a fim de concorrer à Presidência da
República pela sigla de Bolsonaro.
Para adversários do PL, à esquerda e ao
centro, mesmo que a mudança de sigla não se concretize, o chamariz tem atraído
algumas lideranças paulistas. A dúvida é se essa mobilização se resumirá a
vereadores e militantes mais radicais.
Na visão de dirigentes de partidos do
Centrão, não seria negativo, do ponto de vista estratégico, que o PL se
tornasse o polo mais radical do espectro político e outros partidos passassem a
abrigar os candidatos conservadores considerados mais pragmáticos. Existe a
expectativa, inclusive, que entre no cálculo dos políticos nessa janela
partidária a perspectiva de o PL acabar punido no julgamento dos processos
decorrentes dos atos antidemocráticos que culminaram com os ataques do dia 8 de
janeiro.
Os partidos de centro pretendem continuar
participando do governo federal e, ainda assim, fazer parte de administrações
estaduais chefiadas por aliados de Bolsonaro. Apoiadores do ex-presidente têm
recebido convites, mas essas siglas demonstram preocupação em não dar espaço
aos radicais.
O PT também tem a próxima formação do
Congresso no radar, além da reeleição do presidente Lula. Conforme o Valor revelou
em janeiro, o esforço do partido é para acolher pessoas que fizeram o
enfrentamento em defesa da sigla e do atual chefe do Poder Executivo. O plano é
transformá-las em lideranças locais e eleger o maior número possível de
vereadores que se comprometam com a reeleição do presidente em 2026.
Além disso, a ideia do PT é consolidar uma
base reforçada de vereadores para dar capilaridade aos candidatos a deputado
federal daqui a dois anos. Em paralelo, assegurar que as alianças deste ano já
signifiquem compromissos pré-assumidos para a disputa ao Senado.
Nas contas de articuladores políticos do
governo, dos 81 senadores, 38 podem ser considerados da base e 29 senadores
estão consolidados na oposição. Os votos de 14 senadores são disputados pelos
dois polos, a depender da votação e da pauta. Dez senadores da base terão
mandato até 2030, ante 15 da oposição e dois desse grupo “pendular”. Ou seja, a
base do governo no Senado Federal é a que mais sofre o risco de possíveis
trocas de meio de mandato em 2026. Avalia-se no Planalto que há um risco
concreto de perder a maioria no Senado para os aliados de Bolsonaro.
Em paralelo, o plano do PT é ampliar sua
bancada na Câmara dos Deputados para apresentar uma candidatura competitiva à
presidência da Casa em fevereiro de 2027. Assim, em caso de reeleição de Lula,
o partido tentaria romper com as seguidas presidências do Centrão e do avanço
desse grupo de parlamentares sobre o Orçamento-Geral da União. Esses são alguns
dos feixes de luz que passam pela fresta da janela partidária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário