quarta-feira, 3 de abril de 2024

Vera Rosa – O voto deToffoli para virar o jogo no STF

O Estado de S. Paulo

Ministro é contra descriminalizar maconha e vai citar Anvisa, Congresso e Executivo

Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) fechou o cerco contra Jair Bolsonaro, aliados do ex-presidente aumentaram o tom do confronto com a Corte. O STF já tem maioria para estabelecer que não existe possibilidade de intervenção militar “dentro das quatro linhas da Constituição”. Além disso, está a um passo de ampliar o alcance do foro privilegiado para autoridades, mesmo que sejam “ex”, o que prejudica Bolsonaro.

A próxima batalha será o julgamento sobre a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal, que mobiliza o mundo evangélico na cruzada contra “demônios” da esquerda e preocupa o Planalto. É justamente aí que entra o ministro do STF Dias Toffoli.

No último dia 6, Toffoli pediu mais tempo para analisar o caso. Com a estratégia, busca entendimento dentro e fora do STF. Um de seus interlocutores é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, autor de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que criminaliza o porte e a posse de droga em qualquer quantidade.

Toffoli vai surpreender ao abrir uma nova corrente na Corte: ele votará pela constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas, de 2006, que não prevê pena de prisão para usuários e, sim, sanções alternativas.

Mas, ao contrário dos ministros Luís Roberto Barroso, presidente do STF, Gilmar Mendes,

Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Rosa Weber (já aposentada), Toffoli se posicionará contra a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. A ideia do magistrado é dar um prazo de 18 meses para a Anvisa, o Congresso e o Executivo estabelecerem uma política pública em relação aos usuários. Pela proposta, caberá a essas instâncias regulamentar a quantidade de maconha que diferenciará o consumidor do traficante e como será feita a comercialização da droga.

Indicado para o cargo pelo presidente Lula, Toffoli tem tomado decisões polêmicas nos últimos tempos, como as que suspenderam multas bilionárias em acordos de leniência da Lava Jato. Agora, nesse julgamento, está disposto a se aliar ao evangélico André Mendonça.

Na prática, Toffoli age para evitar a rota de colisão do STF com o Congresso e tenta construir um acordo para virar o jogo, uma vez que ministros ainda podem ajustar seus votos. De quebra, dá uma força para Lula porque o governo pode até ampliar a imunidade tributária dos templos religiosos, mas perdeu a batalha da comunicação com os evangélicos.

De nada adiantam agora campanhas publicitárias como “Fé no Brasil”, para fazer um aceno a esse público, se eleitores conservadores pobres e moradores da periferia continuarem esquecidos pelo PT.

 

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