Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto / Valor Econômico
Nos bastidores, mudança de postura de Lira foi comemorada
Após ensaiar uma escalada da crise com o
Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu recuar e segurou, pelo menos temporariamente, o
andamento de medidas que tinham o potencial de desagradar ao governo.
Críticas de aliados aos seus recentes movimentos, recomendações para que
mudasse o tom e uma visita do ministro da Casa Civil, Rui Costa, teriam contribuído
para o reposicionamento.
Nessa quarta-feira (17), o plenário aprovou apenas requerimentos de urgência a projetos sem polêmica e encerrou rapidamente as votações. Parlamentares não se debruçaram sobre requerimentos que enfrentavam resistência do governo. O alagoano nem sequer participou da sessão.
Segundo apurou o Valor, líderes partidários
demonstraram insatisfação com os ataques feitos por Lira ao ministro da
Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT). Na semana passada, o presidente da Casa disse que o auxiliar de
Lula é seu desafeto pessoal e “um incompetente”.
Na avaliação de lideranças partidárias, essa
postura de Lira não agrega em nada para uma eventual melhora na relação entre
Legislativo e Executivo e “apenas cria novas indisposições com o governo”.
Esse sentimento foi compartilhado com Lira na
terça-feira (16). Horas depois, ele levou adiante a votação de alguns itens do
pacote de pautas desfavoráveis ao governo, como a votação de um requerimento de
urgência do projeto que impõe sanções
administrativas e restrições
a ocupantes e invasores de propriedades rurais e urbanas. Essa
votação provocou reação de governistas, que alegaram que esse não era o
combinado na reunião de líderes.
Ao presidente da
Câmara, deputados avaliaram que ele cometeu alguns exageros nos últimos dias -
apesar de reconhecerem que Padilha errou e não entregou coisas que prometeu,
pontuaram que atacar publicamente não resolverá a situação.
Por outro lado, parlamentares também
reprovaram a reação do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) às críticas de Lira a Padilha. O
presidente disse que o auxiliar permaneceria no cargo “só por teimosia”.
A leitura de alguns
congressistas é que o presidente “abusou da ironia” para defender o ministro
responsável pela articulação política, o que não contribui para o arrefecimento
da crise entre os Poderes.
A demissão
de César Lira, primo do parlamentar do PP, da superintendência do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, sem avisá-lo, foi considerada um
“descuido imperdoável”.
Aliados de Lira reconhecem que a ida de Rui Costa à residência
oficial da presidência da Câmara foi um gesto importante para acalmar os
ânimos.
Com isso, propostas consideradas uma afronta
para o governo não foram apreciadas, como o requerimento de urgência para
acelerar a tramitação do projeto que estabelece que proprietários de terras
invadidas possam retomá-las por sua própria força ou utilizar força policial,
independentemente de ordem judicial.
Nos bastidores, aliados de Lira comemoraram a mudança de postura, mas ponderam que “essa é a fotografia do momento” e alertam que novos recados ao Planalto podem ser dados eventualmente.
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