quinta-feira, 18 de abril de 2024

Presidente da Câmara recua após críticas de aliados

Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto / Valor Econômico

Nos bastidores, mudança de postura de Lira foi comemorada

Após ensaiar uma escalada da crise com o Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu recuar e segurou, pelo menos temporariamente, o andamento de medidas que tinham o potencial de desagradar ao governo. Críticas de aliados aos seus recentes movimentos, recomendações para que mudasse o tom e uma visita do ministro da Casa Civil, Rui Costa, teriam contribuído para o reposicionamento.

Nessa quarta-feira (17), o plenário aprovou apenas requerimentos de urgência a projetos sem polêmica e encerrou rapidamente as votações. Parlamentares não se debruçaram sobre requerimentos que enfrentavam resistência do governo. O alagoano nem sequer participou da sessão.

Segundo apurou o Valor, líderes partidários demonstraram insatisfação com os ataques feitos por Lira ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT). Na semana passada, o presidente da Casa disse que o auxiliar de Lula é seu desafeto pessoal e “um incompetente”.

Na avaliação de lideranças partidárias, essa postura de Lira não agrega em nada para uma eventual melhora na relação entre Legislativo e Executivo e “apenas cria novas indisposições com o governo”.

Esse sentimento foi compartilhado com Lira na terça-feira (16). Horas depois, ele levou adiante a votação de alguns itens do pacote de pautas desfavoráveis ao governo, como a votação de um requerimento de urgência do projeto que impõe sanções administrativas e restrições a ocupantes e invasores de propriedades rurais e urbanas. Essa votação provocou reação de governistas, que alegaram que esse não era o combinado na reunião de líderes.

Ao presidente da Câmara, deputados avaliaram que ele cometeu alguns exageros nos últimos dias - apesar de reconhecerem que Padilha errou e não entregou coisas que prometeu, pontuaram que atacar publicamente não resolverá a situação.

Por outro lado, parlamentares também reprovaram a reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às críticas de Lira a Padilha. O presidente disse que o auxiliar permaneceria no cargo “só por teimosia”.

A leitura de alguns congressistas é que o presidente “abusou da ironia” para defender o ministro responsável pela articulação política, o que não contribui para o arrefecimento da crise entre os Poderes.

demissão de César Lira, primo do parlamentar do PP, da superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, sem avisá-lo, foi considerada um “descuido imperdoável”.

Aliados de Lira reconhecem que a ida de Rui Costa à residência oficial da presidência da Câmara foi um gesto importante para acalmar os ânimos.

Com isso, propostas consideradas uma afronta para o governo não foram apreciadas, como o requerimento de urgência para acelerar a tramitação do projeto que estabelece que proprietários de terras invadidas possam retomá-las por sua própria força ou utilizar força policial, independentemente de ordem judicial.

Nos bastidores, aliados de Lira comemoraram a mudança de postura, mas ponderam que “essa é a fotografia do momento” e alertam que novos recados ao Planalto podem ser dados eventualmente.

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