O Globo
Quando Bolsonaro cortava as verbas da saúde e
educação, era um absurdo. No atual governo, tem ocorrido a mesma coisa
Estamos a cinco meses das eleições
municipais, em que decidiremos sobre as políticas mais próximas de nós. Afinal,
é nas cidades que a vida acontece. Por isso gostaria de renovar o debate sobre
o país e a sociedade que queremos ser.
À medida que o tempo passa, fica mais evidente que as discussões dizem respeito a quem, e não a “o quê”. Os grandes temas que são unanimidade quanto à necessidade de mudar se submetem ao grupo que defende o que fazer. A população não tem acesso à educação e à saúde de qualidade. No entanto, a depender de quem está no poder, uma parcela se cala, enquanto a outra grita. Quando Bolsonaro bloqueava ou cortava as verbas dessas áreas, era um absurdo. No atual governo, tem ocorrido a mesma coisa, mas surgiram justificativas vindas justamente dos setores que reclamaram tanto no governo passado.
Ainda em campanha nas eleições de 2022, Lula afirmou
que o orçamento secreto era a “fonte do maior esquema de corrupção da História
do país”. Depois de assumir, em 2023, foram empenhados R$ 34,6 bilhões em
emendas, segundo a Secretaria de Relações Institucionais. Em 2022, foram R$
16,8 bilhões, o que equivale a uma alta de 106,14%. O mais interessante é que o
partido mais beneficiado foi o PL.
Neste ano, já foram liberados R$ 14 bilhões,
entre janeiro e abril. Em 2020 — também ano de eleições municipais —, Bolsonaro
empenhou R$ 4,18 bilhões. O que mudou de lá para cá?
Na semana passada, o presidente Lula, em ato
do dia 1º de Maio, disse o seguinte:
— Eu vou fazer um apelo. Cada pessoa que
votou no Lula [...] tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo.
Houve quem defendesse que não era propaganda
antecipada. Porém o artigo 3A da Resolução 23.610 do TSE classifica
como tal “aquela divulgada extemporaneamente cuja mensagem contenha pedido
explícito de voto”. Como disciplinado no artigo 73 da Lei das Eleições, a
transmissão desse pedido via canal oficial da Presidência pode ser considerada
conduta vedada.
Mesmo sem pedido explícito de votos, em 2022
o TSE determinou o pagamento de multa a Bolsonaro por propaganda antecipada em
razão da realização de motociata em abril daquele mesmo ano, entendendo que
“analisando o conjunto das circunstâncias em que foi organizado o evento”,
existiu ali “um verdadeiro ato de campanha”.
E, assim, surge novamente a pergunta sobre a
diferença entre as situações. Por que adotamos dois pesos e duas medidas quando
mudam os atores?
Aqui eu trago o exemplo do motorista do carro
de luxo. Será que as instituições que adotam posturas distintas quando o rico
ou o pobre comete crime são tão distantes assim de nós? Será que realmente
queremos que a lei tenha a mesma aplicação para todo mundo?
No final das contas, somos pessoas numa
sociedade que não consegue reconhecer o básico: situações similares precisam
produzir efeitos parecidos. Esses poucos exemplos mostram que, antes de apontar
o dedo para fora, precisamos mudar por dentro. Do contrário, seguiremos
patinando eternamente.
Um comentário:
Hmmm...
😏😏😏
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